Cap07 – A Festa – Livro – O que é o Forró? (2022)
A partir do final do século 16, durante o período de escravatura no Brasil (1539 – 1888), os cativos escravizados tinham aos domingos um dia de descanso. Na noite de sábado e durante o domingo, aconteciam cerimônias de adivinhação e cura, denominados Calundus.
Um alento psicológico frente as agruras do cativeiro, ao som de cânticos e Batuques, seus participantes se comunicavam com os espíritos dos seus antepassados através da dança e da música, com Pandeiros, palmas, Ganzás, Reco-recos, Castanholas, Berimbaus de Boca, Marimbas e Tumbadoras.
Com o passar do tempo, esse tipo de encontro passou a receber um intercâmbio de pessoas escravizadas vindas de vilas ou fazendas próximas. Até o final do século 17, os Calundus ocorriam apenas nas senzalas e terreiros das fazendas.
Aos poucos as cidades crescem e a colônia passa a ter uma grande quantidade de negros libertos, mulatos, cabras, mamelucos, colonos brancos pobres e nativos que viviam próximos às vilas e passaram a frequentar e promover organicamente encontros semanais abertos com Batuques, cantos e muita dança.
No início do Século 18, foram proibidos os rituais religiosos dos negros. Isso separou a religião da diversão. Os Calundus, que até então recebiam todo tipo de gente para dançar, tanto religiosamente quanto socialmente, passaram a ser eventos exclusivamente sociais, com o passar do tempo, esses encontros/eventos passaram a ser chamados de Sambas.
A fim de evitar insurgências, os senhores brancos e a polícia entendiam que os encontros musicais, chamados de “reuniões de pretos”, sem caráter religioso, eram um mal menor. Com isso, os Sambas passaram a ser classificados como ‘toleráveis’ e prosperam. Esse é o início da festa “Forró”.
Quando os eventos começaram a ocorrer nas periferias das áreas urbanas, passaram a receber brancos e mestiços. Reuniões integrando brancos e negros eram proibidas. Várias leis foram editadas e publicadas nesse sentido repetidas vezes no decorrer dos séculos. O que mostra que ninguém respeitava e as interações raciais fluíam nos Sambas naturalmente.
Esses Sambas frequentemente terminavam em confusão, brigas, discussões, disputas amorosas, entre outras “desordens” de uma forma geral. Por conta disso os encontros sociais passaram a ser denominados também de “forrobodós”, que tem exatamente esse significado.
No final do século 17, no início do ciclo do ouro, havia bandas, formadas por escravos, ex-escravos, negros livres, crioulos e “cabras”. Essas bandas de fazenda tocavam em todas as ocasiões, em diversos tipos de locais e eventos.
Eram chamados de Chorões (Rio de Janeiro) ou Bandas de Pau e Corda (Nordeste). Dos Xolos, bailes periódicos dos escravos, até as festas da realeza, festividades públicas e privadas, grandes e pequenas, eruditas e de improviso, tocavam os ritmos europeus e os ritmos híbridos também, dependendo da ocasião.
São estes os músicos que faziam transitar as novidades estéticas, poéticas e musicais entre as classes sociais, conectando a população em geral. Misturaram influências forjando um novo costume nacional, e com isso, revolucionaram a música mundial.
No final do século 18 e início do século 19, houve um grande crescimento da classe média e da burguesia, o que propiciou nas grandes cidades, como Rio de Janeiro e Salvador, ambientes culturais nos quais o Lundu passou a ser urbano, a partir das periferias para os bairros nobres, era tocado nos “Pagodes”, nos fundos de quintal das casas humildes, em encontros dominicais, até chegar aos saraus nas salas de estar das casas dos ricos.
Nas classes altas, nas festas, eventos, jantares e confraternizações, a dança e a música do Lundu ocorriam em um caráter de exibição e não de dança social a dois como ocorria nas classes baixas.
Nas grandes festividades das cidades, festas de cunho religioso, após as celebrações, o povo caia na folia, e espontaneamente acontecia um Batuque coletivo em que todo mundo acabava dançando com todo mundo. Com o fim da festa, os mais animados, em grupos menores, sempre iam alongar sua diversão com mais música e dança.
A partir dos bailes e confraternizações da alta sociedade, o formato europeu de apresentações musicais e de dança, com diferentes ritmos, em peças intercaladas por interlúdios (Rojões), permeou para os bailes populares.
Nestes, as peças apresentadas eram compostas pelas expressões da terra (ritmos híbridos) e não pelas músicas e danças europeias.
Nesses encontros festivos chamados de Samba, eram tocados vários ritmos, todo mundo dançava com todo mundo e essa tradição vem passando de geração para geração. O brasileiro, com sua alma festiva, sempre tem um motivo para fazer um Samba em sua casa. Seja aniversário, batizado ou casamento, qualquer evento que reúna as pessoas, sempre acaba em festa e todo mundo dançando até amanhecer o dia.
A partir da década de 1950, os eventos Samba passaram a tocar apenas o ritmo Samba, o que fez com que aquela festa que tocava vários ritmos nordestinos, deixasse de usar essa nomenclatura. Fato que fortaleceu e projetou a nomenclatura Forró, para todo o Brasil, através da rádio, através de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.
Parte do livro: O que é o Forró? Um pequeno apanhado da história do Forró./ Ivan Dias e Sandrinho Dupan. 2022 ISBN978-65-997133-0-9
Projeto contemplado pela 2a Edição do Fomento ao Forró, da “Secretaria Municipal de Cultura” da cidade de São Paulo.
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