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Marinalva e sua Gente – Texto de Érico Sátiro

Marinalva e sua Gente – Texto de Érico Sátiro

 

Campina Grande, 1948. Dona Donzinha cuida em casa de sua filha Maria, nascida às vésperas das festas juninas. Enquanto acalentava a então caçula e cuidava dos outros pequenos, a mãe ouvia a filha mais velha, Inês, pedir autorização ao pai para ir ao cinema com o irmão Ademar. Com o consentimento de Seu Manoel, Inês saía de casa com o irmão, mas não para ir ao cinema, e sim à rádio fazer o que mais gostava: cantar. Escapando da rigidez do pai, que não queria saber de cantora na família, assim surgiu o talento de Inês, que se tornou a famosa artista Marinês, a “Rainha do Xaxado”. O que Seu Manoel não esperava era que, além de Marinês, ele teria outra filha cantora, Maria, o bebê que estava em casa com a mãe enquanto a irmã dava seus primeiros passos na música. Mais tarde, ela ficaria conhecida como Marinalva.

O surgimento musical das irmãs não foi fácil. O universo dos cantores nordestinos, desde o seu início, foi dominado pelos homens, assim como na grande maioria das classes trabalhadoras brasileiras do século passado. Eram muitos “reis” para poucas “rainhas”. Devagarzinho, no entanto, e superando preconceitos, elas começaram a surgir. Carmélia Alves, Marinês, Anastácia, Hermelinda, Clemilda e Elba Ramalho são algumas que constam em qualquer lista de mulheres forrozeiras, com seus baiões, xotes e xaxados, entre outros ritmos. Marinalva, apesar do grande talento, vem sendo injustamente esquecida, tanto que não há praticamente nada sobre ela em livros ou mesmo em textos na internet (os poucos que existem trazem informações desencontradas).

Ao contrário da irmã mais famosa, que era natural de São Vicente Ferrer/PE, Marinalva (Maria Caetano de Oliveira) nasceu em Campina Grande/PB em 10/06/1948, sexta dos nove filhos (quatro homens e cinco mulheres) de Seu Manoel (Manoel Caetano de Oliveira), mecânico e armeiro, e de Dona Donzinha (Josefa Maria de Oliveira). Em Campina, cresceu nos bairros Liberdade e Quarenta e, curiosamente, era chamada pelos parentes próximos por outro nome. “A gente a chamava de Consuelo ou de Maria Consuelo. A origem do apelido eu não sei não. Depois foi que ficou Marinalva mesmo”, explica o irmão Sussuanil, zabumbeiro, que atualmente reside no Rio de Janeiro/RJ e ainda atua em forrós junto com seu irmão Lourival (ambos tocaram muito tempo com Marinês). O apelido definitivo – Marinalva – só viria no início da carreira profissional, por sugestão do músico e produtor Abdias, então marido de Marinês, referência clara para o surgimento desse nome artístico (o “e sua gente”, acrescentado a Marinês por ideia de Chacrinha, também foi incorporado por Marinalva).

Oficialmente, a data de nascimento de Marinalva, constante em certidão de registro, é 10/02/1948, mas a cantora também possuía documentos com a data de 10/06/1948. Em razão do testemunho de seus familiares, que confirmaram que o aniversário dela era comemorado em 10/06, presume-se que houve um erro quanto ao mês em sua certidão de nascimento.

Não tendo encontrado, por parte de seu pai, a mesma resistência sofrida pela irmã mais velha para iniciar na música, a caminhada de Marinalva como cantora surgiu quando ela tinha cerca de 14 anos de idade, em programas de calouros, onde interpretava canções não apenas de forró, mas também de outros estilos, a exemplo de músicas do repertório de Ângela Maria. A carreira profissional se iniciou por volta de 1966, já sob o nome artístico de Marinalva e Sua Gente, fazendo apresentações em locais como circos, cinemas e rádios de Campina Grande e de outras cidades, como Recife, onde, naquele ano, foi uma das atrações do programa de auditório Comandos da Alegria, da Rádio Clube, em quadro que divulgava novos artistas. Foi uma das primeiras forrozeiras paraibanas a se destacar no cenário da música nordestina.

 

Década de 70

Seu primeiro disco veio em 1970, com o título Eu também sou de lá, lançado pelo selo Maraca, com destaque para faixas como “Jacaré dos Homens” (Elino Julião) e “O solteirão” (J. Cavalcante/Antônio dos Passos), que foi gravada no mesmo ano por Jackson do Pandeiro. Na canção que dá nome ao disco, de autoria de João Silva e J. B. De Aquino, a cantora se apresenta: “Nasci pra cantar/essa é minha sina/eu também sou de Campina/também quero xaxear”. Após ao lançamento do primeiro LP, Marinalva começou a ser convidada a participar de coletâneas diversas, inclusive assinando algumas canções. Os principais discos foram O fino da roça – vol. 3 (1971), Quermesse (1971), O fino da roça – vol. 4 (1972), Quermesse – vol. 2 (1972) e Fogo na geringonça – vol. 2 (1972), que incluíam músicas da cantora e de nomes como Zé Calixto, Antônio Barros, Messias Holanda e Genival Lacerda, amigo e conterrâneo que muito ajudou a cantora nesse período. Mas foi a partir de 1974 que a paraibana começou a criar discos mais marcantes. Em Poeira do Caminho (1974), gravado em São Paulo sob direção de Pedro Sertanejo, Marinalva mostrou sua qualidade com um bom repertório. Músicas como “Enquanto há vida, há esperança” (Antônio Penha/Wanderley Silva), “Eu vim de longe” e “O bom do xaxado” (ambas de Joca de Castro/Genival Lacerda) mostram a evolução da intérprete. Outro destaque, a toada “Poeira do caminho” (Joca de Castro/Genival Lacerda) apresenta uma das temáticas preferidas da cantora: o Nordeste, com suas belezas, seu povo, seus dramas e problemas.

Os outros dois álbuns gravados por Marinalva nos anos 70 comprovam que a década representou, musicalmente, a melhor fase de sua carreira, principalmente pela poesia nordestina contida em diversas letras. Com produção de Jackson do Pandeiro, a cantora lançou pela Chantecler/Alvorada os LPs Viva o Nordeste (1977) e Tardes Nordestinas (1978). Pra quem conhece a obra de Jackson, fica fácil perceber a semelhança na sonoridade desses discos com outros gravados ou dirigidos por ele naquela época, a exemplo de O Rei do Coco, do pernambucano Bezerra da Silva. Nesses álbuns de Marinalva, a cozinha percussiva do Rei do Ritmo é bem perceptível em faixas como “Vou me incendiar” (Raymundo Evangelista/J. B. de Aquino), “Retirante, não” (João Silva/J. B. De Aquino), “Eu vou pra Bahia” (Alba), “Chuva caiu” (Cecéu) e “Chega pra lá meu bem” (Ignácio Virgulino/Marinalva). “Tarde nordestina” (no singular, ao contrário do título do LP), de autoria de D. Matias e Naldinho, tornou-se o principal
sucesso da carreira de Marinalva.

No mesmo período, participou, com duas músicas, da coletânea Canjica, pamonha e rojão (1977), da qual também faziam parte Jackson do Pandeiro (como produtor e intérprete), Severo, Manezinho Silva, Alventino Cavalcanti e Haroldo Francisco (Kojak do Forró).

 

Duplo sentido e década de 80

O forró com letras de duplo sentido, popularizado na década de 70 por Genival Lacerda e seguido por artistas como Messias Holanda e Zenilton, tornou-se praticamente uma preferência nos anos 80 por parte das gravadoras, que lucravam bastante com a boa venda de discos que exploravam o tema. Sandro Becker, Zé Duarte e Clemilda, a partir da primeira metade da década, juntaram-se aos principais nomes do gênero gravando músicas apimentadas, mas antes do sucesso desses três Marinalva já começava a acrescentar em seu repertório o duplo sentido. O LP De rolha na boca (1980) trouxe a temática escancarada no próprio título, retirado da faixa homônima de autoria do cantor e compositor João Gonçalves, mestre no estilo, em parceria com Micena do Icó. Não se pode dizer, entretanto, que Marinalva tenha feito discos de duplo sentido, pois, apesar de quase todos os seus LPs seguintes possuírem músicas com letras do gênero, elas nunca chegaram a predominar no repertório – eram, no
máximo, duas ou três por disco.

Mesmo tendo gravado canções de sentido dúbio, Marinalva parecia não se sentir muito à vontade com a temática. Em 1991, ao saber que sua gravação de “Tarde nordestina” havia sido escolhida para integrar a coletânea Brazil Classics 3 – Forró etc., produzida principalmente para o mercado internacional pelo músico David Byrne, ex-líder da banda norte-americana Talking Heads, a cantora demonstrou alívio: “É muito bonita. Fala das coisas do Nordeste, do sofrimento dessa gente do sertão. Ainda bem que não foi daquelas indecentes, de duplo sentido”, declarou (Matéria “Forró a laser agita o mercado americano”. Jornal do Brasil, 15/06/1991). No encarte do CD, o texto assinado pelos professores, escritores e estudiosos de música Larry Crook e Charles A. Perrone destaca que Marinalva costumava fazer “canções tipicamente nostálgicas como Tarde Nordestina”. Moda na época, o duplo sentido acabou sendo responsável pelo maior sucesso de Marinalva naquele período: “Forró na Bica” (João Gonçalves/Marinalva), regravada em 1986 por Sandro Becker.

“Forró na bica” fazia parte do disco Um bom forró, que sucedeu Cheguei (último álbum com o ex-marido e sanfoneiro Zezinho, lançado em 1983), e que marcou uma mudança no som da forrozeira. A partir da parceria com seu marido Aracílio Araújo, houve uma “acelerada” em geral nas músicas, que ficaram mais dançantes, trazendo o álbum Um bom forró arranjos de sanfona mais ariscos, principalmente em faixas como “Um bom forró” (João Gonçalves/Marques Irmão), “Quero me divertir” (Aracílio/Marinalva/Calisto Moreira), “A noite é minha” (Aracílio/Marinalva) e “No cheiro de forró” (Aracílio/Marinalva) – esta última regravada por Flávio José em 1991. Foi o primeiro trabalho de Marinalva com Aracílio Araújo e também com Quartinha (zabumba), que permaneceu trabalhando com ela por vários anos. “Marinalva cantava muito. Muito, muito mesmo. Era um Luiz Gonzaga de saia. No palco ela ia pra lá, pra cá, como Elba Ramalho. Além de grande artista, era uma pessoa muito legal, era minha amiga e comadre”, comenta o zabumbeiro, destacando a energia da intérprete em suas apresentações.

Após Um bom forró, a paraibana lançou Enxugue o rato (1986), que trazia a versão cantada para a faixa-título de Luiz Moreno, com participação de Abdias. O disco foi gravado no Rio de Janeiro e contou com Marcos Farias, músico, produtor e maestro, filho de Marinês, na produção (junto com seu pai Abdias) e nos arranjos. Na sequência, veio o disco Marinalva e sua gente (1987), seu melhor e mais animado trabalho dessa fase (junto com Um bom forró). Seguindo o exemplo de nomes como Jorge
de Altinho e Nando Cordel, Marinalva e sua gente contou com a inserção de metais em faixas como a regravação de “Jacaré dos Homens” (Elino Julião) e o pot-pourri de abertura com “Saudade de Campina Grande” (Rosil Cavalcanti), “Não dá pé” (Cecéu) 3 e “É tempo de voltar” (Dominguinhos/Anastácia), músicas anteriormente gravadas por Marinês. Esse pot-pourri inclusive foi utilizado pela cantora na apresentação, em rede nacional, no programa Clube do Bolinha, da TV Bandeirantes. Marinalva e sua gente foi o último disco gravado na década pela artista, que também realizou trabalhos em álbuns de outros músicos, como no LP Merengue dela (1986) de Arlindo dos 8 Baixos, onde tocou triângulo e atuou como assistente de produção, e no LP Bom pra forrozar (1989), de Duda da Passira, cantando em uma faixa.

Foi também na década de 80 que Marinalva viu crescer sua popularidade no Nordeste. Era convidada frequentemente para programas locais de televisão, em canais como a TV Tupi de Recife, a TV Jornal do Commercio (Rede Bandeirantes) e TV Universitária. A agenda de shows também era cheia, com apresentações em diversas cidades nordestinas, sendo anunciada como uma das maiores atrações de grandes festividades. Os anúncios e notícias abaixo comprovam que Marinalva era uma das mais principais cantoras nordestinas do período:


Anúncio do ano de 1989 (Diário de Pernambuco).


Anúncio do ano de 1983 (Diário de Pernambuco).


Notícia de 28/06/1983 e 24/05/1989 (Diário de Pernambuco).


Notícia de 24/05/1989 (Diário de Pernambuco).

 

Final da carreira

1990 foi o ano de lançamento do LP Pra lá de bom, lançado pela Polydisc, com praticamente todas as músicas assinadas por Aracílio Araújo (com parcerias), além de “Pescador Potoqueiro” (João Silva/Messias Holanda) e “Os pernilongos” (João Gonçalves/Marinalva), ambas de duplo sentido. No ano seguinte participou do LP Daquele jeito, do cantor Agamenon Show, cantando em uma das faixas. Em 1992 veio Coração teimoso, último disco da cantora, que trouxe as versões de “Resto de amor” (Cecéu) e “A separação” (Jorge de Altinho/Feliz Barros/Gisa Rocha), sucessos com o Trio Nordestino, além da regravação de “Tarde Nordestina” (D. Matias/Naldinho). Com arranjos do acordeonista Severo, o disco mostra a cantora em plena forma, principalmente em “Coração teimoso” (João Silva), comprovando que seu talento poderia proporcionar ainda, por muitos anos, outras grandes interpretações.

As apresentações musicais de Marinalva, que àquela época normalmente contavam também com seu marido Aracílio Araújo (triângulo), Quartinha (zabumba) e Cicinho (sanfona), duraram até por volta de 1993, quando a cantora começou a enfrentar problemas de saúde. Diabética, chegou a perder parte de um dos pés, dificultando sua locomoção, especialmente em viagens. “A gente fazia muitos shows em Pernambuco e também na Bahia. Por questões de saúde, ficou difícil pra ela continuar”,
relembra Aracílio. A partir daí, Marinalva passou a se dedicar apenas ao lar, atuando esporadicamente em gravações de outros artistas, como no coro de discos de Aracílio Araújo e Santanna (ainda se apresentando como Luís de Santana), e no dueto com Ivan Ferraz em “Mané e Zabé” (Zé Dantas/Luiz Gonzaga), música que marcou a carreira de Marinês por ter sido sua primeira gravação, em 1956, cantando com Luiz Gonzaga. Em 1998 Marinalva ainda participou da décima edição do festival Forró Fest, organizado anualmente pelas TVs Cabo Branco (João Pessoa) e Paraíba (Campina Grande). Na ocasião, interpretou a canção “Mulher forrozeira”, de Aracílio Araújo, ficando com o 3ª lugar no concurso. “Ela recebeu uma sanfona avaliada em dez mil reais como prêmio”, recorda-se, com orgulho, o compositor. A música, assim como as demais finalistas, ganhou versão de estúdio, registrada no CD Forró Fest 10 anos.

Nos anos 2000, Marinalva continuou sofrendo com problemas de saúde em consequência da diabetes e praticamente não atuou artisticamente. Em 11/09/2004, por complicações decorrentes de um AVC sofrido poucos dias antes, faleceu, aos 56 anos, na cidade de Recife/PE.

 

Vida familiar

Não foi somente junto aos seus irmãos que Marinalva teve influência artística. Nos seus casamentos, a paraibana sempre se relacionou com pessoas ligadas à arte. Ainda muito jovem, em uma de suas apresentações Marinalva conheceu o artista circense Arlindo Fernandes, com quem teve seu primeiro filho, Ricardo, nascido em 1965. Pouco tempo depois, separou-se de Arlindo e passou a viver com o sanfoneiro conhecido como Gonzaguinha (que inclusive gravava com ela e tocava nos shows), com quem permaneceu cerca de cinco anos e teve o filho Ronaldo, em 1971. Logo após o nascimento de Ronaldo, no entanto, a união com Gonzaguinha foi desfeita, tanto que o garoto foi criado e registrado pelo marido seguinte de sua mãe, Zezinho (José Bernardo Filho), também acordeonista e que permaneceu com Marinalva até por volta de 1983. Zezinho também atuava artisticamente com ela nas apresentações e em vários discos – o último foi Cheguei. Com ele, a forrozeira teve duas filhas, Jussara (1978) e Janaína Maria (adotiva). Já separado de Marinalva, Zezinho, também conhecido como Zezinho do Acordeon ou Zezinho da Paraíba, destacou-se nos anos 90 na banda Mastruz com Leite, tocando por vários anos no famoso grupo. Desde aquela década radicou-se em Fortaleza/CE, onde também gravou alguns CDs em carreira solo.

Após a separação com Zezinho, Marinalva teve como marido o cantor e compositor Aracílio Araújo, com quem foi casada até o final de sua vida. Aracílio, que possui 8 CDs gravados, teve várias composições interpretadas também por diversos outros artistas, como Alceu Valença, Elba Ramalho, Fagner, Marinês, Adelmário Coelho e Flávio José. É dele a canção “Deixe o rio desaguar” (também gravada por Félix Porfírio e Flávio José, entre outros), que se tornou uma espécie de hino da transposição do rio São Francisco. Foi fundamental na carreira da esposa, atuando nos discos (desde Um bom forró até Coração teimoso) e compondo diversas canções que fizeram parte do repertório dela. O casal teve os filhos Marcílio (1985) e Marcelino (por adoção). Marcílio (zabumba e vocal) e seu irmão Ronaldo (sanfona), aliás, seguiram os passos dos pais e são músicos em Olinda, onde atuam há mais de 10 anos na banda Forró sem Fronteiras. Em relação às cidades onde residiu, Marinalva, além de Campina
Grande/PB, morou em João Pessoa/PB e também, por curtos períodos, no Rio de Janeiro/RJ, Salvador/BA e Aracaju/SE. Nos anos 80 mudou-se definitivamente para Olinda/PE, sua última cidade.

 

Discografia

Para a pesquisa sobre a discografia de Marinalva, foram consultados diversos sites de música (principalmente o Forró em Vinil) e de comércio de discos, bem como jornais e acervos de colecionadores, sendo encontrados 11 LPs solo e 11 participações em coletâneas (6 delas com músicas inéditas e outras 5 com fonogramas extraídos de discos anteriores). O total de gravações, incluindo duetos em discos de outros artistas, foi de 140. Dessas, assinou como compositora, com parcerias, em 25. Teve também uma composição gravada por Arlindo dos 8 Baixos (mas não gravada por ela), totalizando 26 composições, várias delas com o marido Aracílio Araújo, que explicou que, na verdade, o processo de criação não passava pela esposa: ele fazia a canção sozinho e registrava o nome dela como co-autora. Todos esses números, entretanto, podem ser maiores, tendo em vista a escassez de fontes disponíveis para consulta.

Dos discos individuais relacionados abaixo, somente o Pra lá de bom, atualmente, não está disponível para audição nas plataformas digitais de streaming. Todos os demais, bem como algumas coletâneas, podem ser encontrados:

Discos solo
Eu também sou de lá (1970, Maraca)
Poeira do caminho (1974, CBS/Tropicana)
Viva o Nordeste (1977, Chantecler/Alvorada)
Tardes nordestinas (1978, Chantecler/Alvorada)
De rolha na boca (1980, Rozenblit)
Cheguei (1983, Rozenblit)
Um bom forró (Palco) (Não foram encontrados registros, provavelmente foi lançado em 1985)
Enxugue o rato (1986, Polygram/Memória)
Marinalva e sua gente (1987, Polydisc)
Pra lá de bom (1990, Polydisc)
Coração teimoso (1992, Somarj)

Coletâneas
O fino da roça vol. 3 (1971, Fontana)
Quermesse (1971, Fontana)
O fino da roça vol. 4 (1972, Fontana)
Quermesse vol. 2 (1972, Fontana)*
Fogo na geringonça vol. 2 (1972, Fontana)
Forró (1976, Phonogram/Polyfar)*
Canjica, pamonha, rojão (1977, Chantecler/Alvorada)
O fino do fino da roça (1979, Polygram/Sinter)*
O fino do fino da roça vol. 2 (1980, Polygram/Sinter)*
Puxando fogo (1985, Polygram/Sinter)*
Forró fest 10 anos (1998)
* Discos sem canções inéditas de Marinalva.

 

A falta de reconhecimento

Ótimos discos, mais de 20 anos de carreira, participação em várias coletâneas e uma boa popularidade no Nordeste no período em que atuou. Isso tudo, porém, não foi suficiente para que o nome de Marinalva se tornasse conhecido nacionalmente. Mesmo quem não conhece muito bem a música nordestina certamente sabe quem é Marinês, mas, provavelmente, nunca ouviu falar em Marinalva. Alguns motivos podem explicar o fato. Primeiramente, ela surgiu artisticamente em um período em que o forró, ofuscado por gêneros diversos, era pouco valorizado fora da região nordestina. Segundo, porque lhe faltou uma melhor estrutura de apoio na carreira, um empresário ou gravadoras que investissem mais no seu talento.

“Marinalva cantava muito bem. Tinha uma voz linda, afinada, mas não tinha uma boa estrutura em volta dela. Não tinha o tirocínio artístico da irmã, por exemplo. Era um pouco desorganizada. Somente nos anos 80 é que as coisas se ajeitaram mais”, opina Aracílio Araújo, viúvo da cantora, a respeito do assunto. Além desses fatores, faltou também a Marinalva uma música que estourasse nas rádios de todo o país, como aconteceu com “Severina Xique-Xique” (João Gonçalves/Genival Lacerda) e “Prenda o Tadeu” (Antônio Sima/Clemilda), sucessos com Genival Lacerda e Clemilda, respectivamente. Essa lacuna pode ser explicada pela falta de um empenho maior por parte das gravadoras junto à mídia ou mesmo por não ter tido uma maior sorte. O jornalista e escritor Luís Antônio Giron, em texto publicado em 1991 na Folha de São Paulo sobre o já mencionado CD Brazil Classics 3 – Forró etc. (Matéria “David Byrne acha que o forró é uma mistura de ska com polca”, Folha de São Paulo, 19/06/1991), ao mesmo tempo em que elogia a cantora por sua interpretação de “Tarde nordestina”, sugere que a falta de sucesso da paraibana no sul se devia a sua “estigmatização pela baixa qualidade de seu repertório”, comparando-a a Clemilda. Certamente se referia às composições de duplo sentido, demonstrando desconhecer o trabalho em geral de Marinalva, já que menos de 10% das canções gravadas por ela tinham letras maliciosas. A respeito de ter sido irmã de uma cantora já famosa, claro que o fato já lhe servia como um bom cartão de visitas, mas, no geral, o parentesco não foi fundamental em sua carreira. “Marinalva não gostava de explorar o fato de ser irmã de Marinês, não ficava usando isso para se promover, tinha uma carreira independente. Pode escutar todos os discos de Marinês. Você não vai encontrar sequer uma participação de Marinalva”, explica Aracílio Araújo.

Todos esses aspectos abordados, no entanto, não justificam o esquecimento sobre a cantora no Nordeste, principalmente em Pernambuco, onde ela desenvolveu boa parte da carreira, e em sua terra natal. A Paraíba, berço de grandes nomes do forró como Jackson do Pandeiro e Sivuca, normalmente reconhece a importância de seus valores artísticos, mas praticamente não se fala, não se escreve e não se toca Marinalva. Até mesmo em Campina Grande seu nome é pouco citado. O Forró Fest e o Troféu Gonzagão, eventos sobre a música nordestina realizados anualmente no estado e que já homenagearam inúmeros paraibanos, nunca lembraram de Marinalva. Logicamente, pelo que representou, é normal que Marinês, um dos grandes pilares da história do forró, seja bem mais mencionada, mas Marinalva também merece ter seu destaque. Nunca é tarde para a arte, para que as novas gerações (re)descubram valores do passado. E, quem sabe, essa redenção não se inicie pela Paraíba – e sua gente?

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Vamos cirandar – 1972

Colaboração do Lourenço Molla, de João Pessoa – PB

“Cobiçada” (Dona Duda), “Baracho” e “Imperial” em 19 autênticas cirandas pernambucanas.

Produção de Nelson Ferreira, um fiel “retrato” das cirandas tradicionais. O texto da contracapa de Aldemar Paiva é um belo descritivo do que guarda esse disco.

 Vamos cirandar
1972 – Passarela

01
Vou Falar de Pernambuco (José de Lima e Silva)
Olinda Cidade Maravilhosa (José de Lima e Silva)
Roberto Carlos (José de Lima e Silva)
Sereia (José Gonçalves Ramos)
Lia Vem Pra Ciranda Dançar (José Gonçalves Ramos)
Recife Tem Praias Para Se Escolher (José de Lima e Silva)
Fui Conhecer a Paraíba (José de Lima e Silva)
Vida de Pescador (José de Lima e Silva)
Não Vá Pro Mar (Geraldo Barbosa)
O Meu Navio (Geraldo Barbosa)
Castelo de Areia (Geraldo de Almeida)
Lavadeira (Geraldo Barbosa)
02
Esta Ciranda Quem Me Deu Foi Lia (Baracho)
Morena Vem Ver (Baracho)
03
Tomando Umas e Outras (José de Lima e Silva)
Baralho de Ouro (José Gonçalves Ramos)
Uma Moça Me Perguntou (José Custódio)
04
Ô Cirandeira (Geraldo Barbosa)
Cirandeiro Eu Vou-me Embora (Geraldo Barbosa)

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João da Guabiraba e as Cirandeiras – Ciranda Mimosa

Colaboração do Lourenço Molla, de João Pessoa – PB

Para o bom cirandeiro, João da Guabiraba é referência.

Um disco onde sentimos a ancestralidade das percussões e os corais.

 João da Guabiraba e as Cirandeiras – Ciranda Mimosa
1985 – Copacabana

01
Ciranda do gago (João da Guabiraba – J.E. Valença)
Ciranda do amor (Edson Vieira – João da Guabiraba)
Discoteca da pracinha (Carlos Lima – João da Guabiraba)

02
Minha ciranda (Capiba)
Ciranda do interior (João da Guabiraba – Mê)
Ciranda, cirandá (Edson Vieira – Fernando Borges)

03 Saudação a Iemanjá (D.P. adapt. Pai João)
Grande capital (João da Guabiraba)
Olê, olá (João da Guabiraba)

04
Consagração aos cirandeiros (João da Guabiraba – João Santiago)
Ciranda de Lia (Expedito Baracho)
Lindo dia (João da Guabiraba – Edson Vieira)

05
Vou dançar ciranda (José Bartolomeu – Fernando Borges)
Ciranda brasileira (Edson Vieira – Fernando Borges)
Mão da natureza (João da Guabiraba – Ronaldo Café)

06
Menina dos olhos verdes (Dom)
Cabelos brancos (Carlos Lima)
Frevo ciranda (Capiba)

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Valença Filhos – Pastoril Rosa Encantada

Colaboração do Lourenço Molla, de João Pessoa – PB

Mais um belo disco de Pastoril pra completar a série.

Reparem que esse foi lançado pelo selo Mocambo, muito raro.

 Valença Filhos – Pastoril Rosa Encantada
1979 – Mocambo

01
Apresentação do Pastoril (Valença Filhos)
Cigana ciganinha (Valença Filhos)
Se for louro (Valença Filhos)

02
Se é verdade (Valença Filhos)
Senhor velho mais respeito (Valença Filhos)
Com muito amor somos passtoras (Valença Filhos)

03
Viva o azul e o encarnado (Ernesto F. Vieira)
Jornada diferente (Valença Filhos)
O sol já brilhou (Valença Filhos)

04
Boa noite meus senhores (Irmãos Valença)
O velhinho chegou agora (Valença Filhos – José Nunes de Souza)

05
Céu coberto de estrelas (Valença Filhos)
Trás-Zás (Tema de Pastoril)

06
Meninas, meninas
É primavera (Valença Filhos)
Festa de Natal (Irmãos Valença)
As cinco horas da manhã (Tema de Pastoril)

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Edson Duarte – Parafina

Edson Duarte – Parafina

“Parafina”, do mestre Edson Duarte, é uma edição super limitada, de apenas 300 cópias de altíssima qualidade, em diferentes cores (preto e verde) e com todo o charme de um disco de 10 polegadas em vinil (EP).

Edson Duarte – Parafina

Edson Duarte – Parafina

São 5 músicas de cada lado, gravadas entre 2009 e 2016, cuidadosamente selecionadas e remasterizadas.

Edson Duarte – Parafina

Lançado no final de 2020. A maior parte dos exemplares foi entregue para os fãs e apoiadores que colaboraram durante a pré venda.

Edson Duarte – Parafina
2020 – Forró em Vinil

A01 Parafina (Edson Duarte) 2010
A02 Tô de boa (Edson Duarte) 2009
A03 Sanfoneiro amostrado (Edson Duarte) 2013
A04 Vou arrumar outra Amélia (Edson Duarte) 2009
A05 Mais uma chance (Edson Duarte) 2016
B01 Você me diz não (Edson Duarte) 2016
B02 Bebo nada (Edson Duarte) 2009
B03 Amor verdadeiro (Edson Duarte) 2013
B04 Bem feito coração (Edson Duarte) 2010
B05 Saudade das marchinhas (Edson Duarte) 2010

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Os vários sentidos de Genival Lacerda – Texto de Érico Sátiro

Os vários sentidos de Genival Lacerda – Texto de Érico Sátiro
(texto publicado originalmente na edição nº 47 da revista paraibana Genius)

Quem não conhece Severina Xique-Xique? A pergunta, que também é a frase inicial da música criada pelo compositor João Gonçalves, pode ser facilmente respondida graças ao cantor e compositor paraibano Genival Lacerda (co-autor da canção), falecido no último dia 07 de janeiro, tamanho o sucesso e impacto que causou nacionalmente com essa gravação de 1975, dando início a uma “onda” de canções de duplo sentido interpretadas por vários nomes do forró. O próprio Genival Lacerda, a partir do êxito de “Severina Xique-Xique”, explorou o picante gênero até o final de sua carreira com inúmeras músicas. Mas nem só pelo duplo sentido foi marcada a trajetória de Seu Vavá, muito pelo contrário.
Nascido em 05 de abril de 1931 na cidade de Campina Grande, Genival Lacerda Cavalcante começou sua carreira em 1948, cantando em programas de calouros na sua cidade natal, onde concorreu, entre outros, com uma também iniciante cantora chamada Marinês. Não demorou a se destacar e logo estava participando das rádios Cariri e Borborema. Seguindo os passos do ídolo Jackson do Pandeiro, seu contraparente (1), logo chegou ao Recife, após fazer sucesso em uma festa da rádio Tamandaré em 1953, sendo contratado por esta emissora e conquistando o público pernambucano com seus rojões, sua alegria e modo peculiar de interpretação, não demorando a expandir sua popularidade por todo o nordeste. Em 1956 veio a primeira gravação: um disco de 78 rpm com “Coco de 56” (Genival Lacerda/João Vicente) e “Dance o xaxado” (Genival Lacerda/Manoel Avelino), pelo selo Mocambo, com ritmos e letras tipicamente nordestinos. O crítico Peter Pan, em sua coluna Ronda do disco, do Diário de Pernambuco, escreveu sobre o lançamento: “Genival Lacerda é um bom cantor para ser visto, porque ele sabe aliar a sua interpretação os recursos de gesticulação em palco, o que sempre arranca grandes aplausos do público que o assiste. Em discos, ele defende-se da melhor maneira, não comprometendo o seu cartaz de grande intérprete da música nordestina.” (2) Nessa época, ficou conhecido como Senador do Rojão e Rei da Munganga, devido ao seu estilo cômico nas interpretações, mas ainda sem uso do duplo sentido. Em 1958 gravou seu primeiro LP, um disco de 10 polegadas intitulado Meu Nordeste, deixando claro que Jackson do Pandeiro era uma de suas principais influências – das oito faixas do LP, quatro já tinham feito sucesso com o Rei do Ritmo. “Eu era fã nº 1 dele”, afirmava Genival (3). Nesse período, além de lançar canções de sua própria autoria, gravou em 78 rotações compositores tradicionais da música nordestina como Antônio Barros (“Resposta de Mata Sete”, “Balança o coco”, “Dança do bombo”), Rosil Cavalcanti (Noé Noé, Coco de roda etc.) e Ruy de Moraes e Silva (“Rojão nacional”). Gravou também a primeira interpretação de “Eu vou pra Lua”, sucesso com Ary Lobo (autor da canção em parceria com Luís de França), e “Forró de Zé Lagoa” (Rosil Cavalcanti), gravada posteriormente por Jackson do Pandeiro. Em 1964, após ser aconselhado pelo compositor Ary Barroso, rumou ao Rio de Janeiro, onde recebeu apoio de Jackson e Almira Castilho.

Na Cidade Maravilhosa, Genival Lacerda permaneceu imprimindo seu bom humor em cocos, rojões, marchas e baiões de sua autoria e de nomes como Elino Julião, Gordurinha, Elias Soares e Juarez Santiago, lançados em LPs gravados pela Polydor, Fontana/Philips, Chantecler e Tropicana/CBS. Sua veia cômica rendeu também, em 1970, em parceria com o ator e comediante Lúcio Mauro, o LP As trapalhadas de Cazuza e Seu Barbalho, que apresentava, entre algumas músicas, textos humorísticos de autoria de Luiz Queiroga (4), produtor do disco, que declarou ao Diário de Pernambuco: “Conheci Genival Lacerda cantando na Rádio Tamandaré, no Recife, há 15 anos. O “cabra” era engraçado cantando, mas não dava conta de que guardava um comediante dentro de si. Agora, graças à CBD 5, Genival Lacerda desabrocha seu talento cômico e eu não tenho medo de afirmar que o seu sucesso vai ser enorme e rápido. Quem tiver dúvidas escute as faixas do LP “As trapalhadas de Cazuza”. É o mesmo que Rivelino cobrando uma penalidade máxima”.(6) O parceiro da empreitada, Lúcio Mauro, declarou: “Eu tive a honra de gravar um disco com ele, um LP (…) se houve alguma ajuda de minha parte, eu saí ganhando, por ter feito um disco com Genival Lacerda, que foi e é o maior sucesso musical desse país no gênero dele”.(7)

Outra marca característica do cantor paraibano era a inserção de frases cômicas e recados no início e durante as canções, como em “Eu perdi meu amor” (Juarez Santiago/Genival Lacerda), de 1971:

“Seu Marco Antônio, eu vim passando por aqui que eu tô com uma sede danada. Vim ver sua filha, mas se o senhor quiser, nós troca a bichinha num jegue. Quer não? Quer não?”.

Em “Esse coco é bom” (Genival Lacerda/Genival Santos), também de 1971, o cantor imita um bode falante:

“Bilu, quero beber(…) Benedita, quero beber!”

O período do cantor no Rio de Janeiro (assim como os anos anteriores) resultou em produções criativas, com excelente instrumental e, apesar de pouco conhecidas, de grande importância para a música nordestina. Aliás, o atual público de forró do sudeste, que tomou grande proporção a partir do surgimento do chamado forró universitário, nos anos 90, valoriza bastante essa fase menos conhecida da carreira de Genival Lacerda (até 1974), como explica o DJ e produtor musical Ivan Dias, de São Paulo/SP, criador do portal Forró em Vinil e organizador do Festival Rootstock: “O pessoal daqui cultua bastante o repertório do vinil, tem as festas com discos de vinil, e isso fica mais propício para a gente revisitar os discos mais antigos de Genival Lacerda. Eu, na verdade, gosto muito do Genival, do repertório todo dele”. Ao fim dos seus anos no Rio de Janeiro, Seu Vavá teve a popularidade no nordeste aumentada, construiu um repertório digno dos grandes nomes do forró, chegando também a integrar a caravana do Fino da Roça (8), mas a sonhada fama nacional não apareceu. Faltava um empurrãozinho comercial, que só veio em 1975.
Já residindo novamente em Campina Grande, onde apresentava o programa “Forró do Seu Vavá”, na Rádio Cariri, Genival Lacerda foi procurado pelo compositor João Gonçalves, seu conterrâneo, que lhe ofereceu uma música cuja letra maliciosa trazia a estória de Severina Xique-Xique e Pedro Caroço, que estava “de olho na butique dela”. Após ser rejeitada por Marinês e Messias Holanda, foi aprovada por Genival, que deu uma pequena trabalhada na canção e ganhou a parceria. A música entrou no LP Aqui tem catimberê, que saiu pela Som/Copacabana em 1975 e trazia também outras duas músicas do Senador do Rojão em parceria com João Gonçalves, também de duplo sentido. O sucesso do disco foi praticamente instantâneo, graças a “Severina Xique-Xique”: “Eu vendia 8 mil, 9 mil, 10 mil cópias de cada disco. Em duas semanas já havia vendido 35 mil cópias de “Aqui tem catimberê”. Em pouco tempo chegou a 650 mil”9, contou Genival sobre o disco, que chegou a vender mais de 1 milhão de cópias. A partir daí, a carreira do cantor paraibano deu uma guinada. Apresentou-se por várias semanas consecutivas no programa de Sílvio Santos e também marcou presença em diversos outros programas televisivos de auditório, como os de Chacrinha, Raul Gil e Bolinha. Conquistou o público com suas músicas e também com sua conhecida dança, em que segurava a barriga enquanto balançava o corpo. O sucesso do disco, além de tornar o duplo sentido uma constante na carreira de Genival Lacerda, também fez mudar o enfoque das gravadoras, que passaram a buscar outros nomes que se dedicassem ao gênero. Nesse contexto, forrozeiros como Messias Holanda e Zenilton também alteraram seu repertório e ainda nos anos 70 passaram a se dedicar permanentemente ao estilo. Já nos anos 80, os destaques ficaram por conta de Sandro Becker e Zé Duarte. Este último explica aquele momento: “Os anos 80, até meados dos anos 90, foram o grande auge da música de duplo sentido. Foi um período muito áureo, e a gravadora Copacabana tinha os mais fortes do gênero: eu, Genival Lacerda, Zenilton e Sandro Becker. Éramos os maiores vendedores de discos de duplo sentido”. Sobre Genival Lacerda, Zé Duarte define: “Tenho certeza que entre todos os cantores de forró desse país, até hoje, ninguém fez mais programas de televisão do que Genival. Nem Gonzaga nem ninguém. Foi um grande músico, um humorista. Era um comediante sensacional. Foi o último dos moicanos da safra de Gonzaga. Deixou um grande legado, um grande aprendizado para os forrozeiros que estão chegando”.
Vale lembrar ainda que o forró de duplo sentido não teve início com Genival Lacerda. Antes dele, diversos outros artistas já haviam explorado o gênero, a exemplo de Antônio Barros, Marinês, Trio Nordestino e até mesmo, de forma mais sutil, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Mas é inegável que foi a partir de “Severina Xique-Xique” que o tema explodiu e se expandiu dentro do forró. O próprio Genival Lacerda acumulou sucessos em sua carreira: “Ás de copas”, “Mungunzá de coco”, “A mulher da cocada “(as 3 em parceria com João Gonçalves), “Rita Caxeado” (Luís Santa Fé/Genival Lacerda), “Radinho de Pilha” (Namd/Graça Gois) e várias outras. O próprio Genival reconheceu a importância de “Severina Xique-Xique”: “Com Severina Xique-Xique eu abri as portas para muitos companheiros. Há uns dez anos atrás a música nordestina só era tocada às 5h da manhã ou então às 18h, mas hoje a coisa está diferente (…). Severina Xique-Xique ficou nove meses nas paradas, o tempo que uma criança fica na barriga de uma senhora”.(10) Sobre as letras apimentadas, Seu Vavá se defendia: “Eu não falo o palavrão…o povo pode pensar, mas eu não falo”. (11)

Apesar de praticamente todos os discos de Genival Lacerda, a partir de 1975, terem como base o duplo sentido, é bom ressaltar que o Rei da Munganga continuou gravando temas diversos em seus lps e cds, ou seja, nem tudo era malícia. No próprio disco que gerou “Severina Xique-Xique”, Seu Vavá gravou “Tenente Bezerra”, de Gordurinha, que falava sobre o cangaço, e “Bahia do Catimberê”, de Orlando Deco e Haroldo Franciso (Kojak do Forró), tratando dos costumes e tradições baianas. Nos discos seguintes gravou, entre outras, “Forró da Gente”, de Onildo Almeida (autor de “Feira de Caruaru”, sucesso com Luiz Gonzaga), “Minha melodia” (Cecéu/Graça Gois), “Eu sou da Paraíba” (Luís Santa Fé/Genival Lacerda) e “Sivuca” (Luís Santa Fé/Genival Lacerda) homenagem ao amigo e sanfoneiro paraíbano. Em 1979, gravou “Mangará”, de Luiz Ramalho, também lançada por Luiz Gonzaga no mesmo ano. Cantou também músicas com críticas sociais como “Promessas não enchem barriga” (Cassiano Costa/Graça Gois, 1981) e “Não palhaço” (Cleonice/Graça Gois, 1983), além de “Celeiro de artistas” (João Gonçalves/Genival Lacerda, 1996), onde reclama da pouca valorização aos artistas de Campina Grande, e “Americanizado” (Jorge de Altinho/Genival Lacerda, 1986), acerca da invasão de termos e expressões estrangeiras no Brasil. Tratou também de uma das maiores paixões do brasileiro, o futebol, em “Seleção brasileira”, gravada no ano da Copa do Mundo de 1982. Futebol, aliás, que por pouco não se tornou o trabalho do cantor: chegou a integrar as categorias de base do Treze de Campina Grande/PB, mas desistiu após saber de um amigo que a sua posição, zagueiro, “não dava muito dinheiro” (12).
Como a irreverência era inerente à música de Genival Lacerda, gravou várias letras cômicas, sem abusar do duplo sentido. Se Luiz Gonzaga usava ovo de codorna para “seu problema resolver” e se Jackson do Pandeiro fazia propaganda do tutano (“que fortalece”) e do xarope de amendoim (“um bom fortificante”), Genival usou “Caldinho de mocotó” para “ficar forte”. “Mate o véio mate”, de 1983, e “Galeguim do zoi azul”, de 1988, ambas em parceria com João Gonçalves, também fizeram sucesso com suas letras engraçadas. Já “Quem dera”, uma das canções mais conhecidas de seu repertório, feita com Nando Cordel, foi lançada em 1984 com uma temática mais romântica, assim como “Paraíba apaixonado”, de 1985, composta em parceria com Cecílio Nena. Em “Alô Bahia” (Durval Vieira/Graça Gois, 1985), o Senador do Rojão homenageou artistas daquele estado como Gilberto Gil, Gal Costa e Caetano Veloso, e a letra de “As estrelas no forró” (João Gonçalves/Genival Lacerda, de 1991), trouxe artistas como Sting, Madonna, Paul McCartney e Frank Sinatra para dentro do ritmo nordestino. “Saudoso Frei Damião” (outra parceria com João Gonçalves), de 2001, ilustra a religiosidade do povo nordestino, exaltando o frade capuchinho. Houve espaço até mesmo para um samba, o “Samba pras moças” (Grazielle/Roque Ferreira, 1997), sucesso na voz de Zeca Pagodinho. Em sua obra, Genival Lacerda também não deixou de dedicar um bom espaço para suas principais influências: gravou os CDs Tributo a Jackson do Pandeiro (1998) e Genival Lacerda canta Luiz Gonzaga (2012), passeando pelo repertório desses ícones do forró.
Outro ponto marcante na carreira de Seu Vavá foi a fidelidade e importância que ele deu ao genuíno ritmo nordestino em toda sua trajetória musical, com muito balanço e divisão ritmica – como bom seguidor da escola de Jackson do Pandeiro. Exigente, Genival Lacerda fazia questão de contar com um instrumental de respeito, chegando a gravar, em um único LP, com os acordeonistas Dominguinhos, Chiquinho do Acordeon e Sivuca, três dos maiores nomes da sanfona brasileira. Gravou também com Oswaldinho, Genaro e, nos primeiros discos, com Martins da Sanfona.
A obra de Genival Lacerda não pode nunca se resumir apenas a seus sucessos de duplo sentido. Tanto os seus primeiros vinte anos de carreira, como o que gravou de forma concomitante aos êxitos de temática apimentada, precisam ser mais divulgados e conhecidos. Apenas uma parte pequena de seus mais de 50 discos gravados (entre 78RPM, compactos, LPs e CDs) encontra-se disponível para audição em plataformas digitais, mas pode-se recorrer ao YouTube para pesquisar e ouvir as músicas menos conhecidas de Genival Lacerda, um dos maiores artistas da música nordestina e brasileira e um dos últimos pertencentes à geração de ouro do forró. Um cantor irreverente, alegre e verdadeiramente nordestino. Um artista de múltiplos sentidos.

(1) José Lacerda, irmão de Genival, foi casado com Severina, irmã de Jackson do Pandeiro. Após o falecimento de José Lacerda, Melquíades (conhecido como Loza), seu irmão, também se casou com Severina.
(2) Diário de Pernambuco, 26/04/1956.
(3) Entrevista ao radialista Osvaldo Travassos, no programa “Paraíba é sucesso”, da Rádio Tabajara, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ubY0_belQjU&t=2812s.
(4) Produtor e compositor, criador da personagem Coronel Ludugero, interpretado por Luiz Jacinto.
(5) Companhia Brasileira de Discos.
(6) Matéria “As trapalhadas de Cazuza – Novo LP de Genival Lacerda. Diário de Pernambuco, 1970, edição 00283.
(7) Depoimento contido no documentário “O Rei da Munganga”, 2008, direção de Carolina Paiva.
(8) Genival Lacerda participou, em seus volumes 2, 3 e 4, da série de Lps intitulada “O Fino da Roça”, ao lado de nomes como Jackson do Pandeiro, Messias Holanda, Zé Calixto, Antônio Barros e Elino Julião. Após o lançamento dos discos, os artistas excursionavam por vários estados, divulgando os discos e realizando apresentações.
(9) Entrevista ao radialista Osvaldo Travassos, no programa “Paraíba é sucesso”, da Rádio Tabajara, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ubY0_belQjU&t=2812s.
(10) Matéria “Genival Lacerda – Um cabra cheio de alegria, talento e malícia. Correio Braziliense, 17/08/1979.
(11) Matéria “Genival Lacerda – Um cabra cheio de alegria, talento e malícia. Correio Braziliense, 17/08/1979.
(12) Entrevista ao radialista Osvaldo Travassos, no programa “Paraíba é sucesso”, da Rádio Tabajara, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ubY0_belQjU&t=2812s.

Fontes consultadas:
Marcelo, Carlos; Rodrigues, Rosualdo. O Fole Roncou! – Uma história do forró. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
Moura, Fernando; Vicente, Antônio. Jackson do Pandeiro: o Rei do Ritmo. São Paulo: ed. 34, 2001.
Hemeroteca digital da Biblioteca Nacional: arquivos dos periódicos Diário de Pernambuco, Revista do Rádio, Correio da Manhã, Tribuna da Imprensa e Correio Braziliense.
Documentário “O Rei da Munganga”. Flora Filmes, direção de Carolina Paiva, 2008.
Entrevista ao radialista Osvaldo Travassos, no programa “Paraíba é sucesso”, da Rádio Tabajara, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ubY0_belQjU&t=2812s.
Site do Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB): https://immub.org.
Site Forró em Vinil: https://www.forroemvinil.com.

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CD – Novinho da Paraíba – Cantador Nordestino

Colaboração do Lourenço Molla, de João Pessoa – PB

Mais um disco do Novinho da Paraíba.

Alguém saberia dizer qual é o ano de lançamento desse disco?

 Novinho da Paraíba – Cantador Nordestino

01 De coração pra coração (João Caetano – Novinho da Paraíba)
02 Noite de forró (Pinto do Acordeon)
03 Cheiro de nós (Nanado Alves – Ilmar Cavalcante)
04 Forregaebaiãozar (Vital Barbosa)
05 Doido pra te ver (Vital Barbosa)
06 O bom da vaquejada (Vital Barbosa – José Reis)
07 Destino (Novinho da Paraíba – Vital Barbosa)
08 Sertão (Donato Barbosa)
09 Cantador nordestino (Willamis Barbosa)
10 Peão de vaquejada (Vital Barbosa)
11 Afago (Willamis Barbosa – João Vitor)
12 Xote miudinho (Vital Barbosa)
13 Não liga coração (Washington Marcelo)
14 Fonte do desejo (Novinho da Paraíba – Gino Liver)
15 Se eu cair pra você (Maciel Melo)

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CD – Cila do Coco e seus Pupilos

Colaboração do Lourenço Molla, de João Pessoa – PB.

Mestra do Samba de Coco, senhora dos saberes populares, Cecília Maria de Oliveira, nascida em Olinda – PE, em 1939, é conhecida como a Cila do Coco.

Cresceu cantando com seus pais o “Samba” nos encontros populares nas datas festivas da cidade. Participou de trabalhos com o Nação Zumbi e de dois CDs com a banda belga Think Of One, com quem excursionou por Europa, África e Ásia.

Dona Cila apresenta nesse seu primeiro CD solo, com composições autorais e regravações.
Participações especiais de Cláudio Rabeca, Juliano Holanda e Públius, entre outros.

 Cila do Coco e seus Pupilos
2005

01 – Coco do Pneu (Cila)
02 – Movimento da cidade (Luiz Boquinha)
03 – Dois de setembro (Cila)
04 – Lá vem ela chorando (D.P. Adaptação: Cila)
05 – Crioula (Cila)
06 – Medalha dourada (Jaime Gonzaga)
07 – Carolina (Cila)
08 – É Cosme e Damião (Luiz Boquinha)
09 – Coração de papel (Cila)
10 – Trancelim (Cila)
11 – Anderson Mateus (Cila)
12 – Tirar onda (Cila)

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Roberto Silva – Cantos da nossa cultura

Colaboração do Lourenço Molla, de João Pessoa – PB.

Mais um forrozeiro que pouco pude descobrir sobre sua carreira.

Quem souber informações e puder compartilhar conosco, agradecemos muito.

 Roberto Silva – Cantos da nossa cultura

01 Recado ao vento (Roberto Silva)
02 A cultura sou eu (Ednaldo Silva – Roberto Silva)
03 Cacimba nova (Zé Marcolino – Luiz Gonzaga)
04 Minha capital (Isaias de Bonito – Roberto Silva)
05 O mal se paga com o bem (Roberto Silva)
06 Sanfona amiga (Ivanildo de Pombos)
07 Pra não dizer que não falei do verso (Beto Mi – Roberto Silva)
08 Canção da paz (Sebastião Dias – Roberto Silva)
09 Tange o Amazonas (Roberto Silva – B. Conrado)
10 Tempo de voltar (Dominguinhos – Anastácia)
11 Corrida de mourão (Roberto Silva – M. Azevedo)
12 Caboclo nordestino (Zé Marcolino)
13 Adeus de um vaqueiro (L. Branco – Roberto Silva)
14 Cachoeira (M. Soares – Roberto Silva)
15 Pra ser forró (Roberto Silva)

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Bandinha Sucupira – As 14 mais juninas

Colaboração do Lourenço Molla, de João Pessoa – PB.

Uma bela seleção de repertório, com algumas das mais famosas músicas de festas juninas da época.

Executadas pela Bandinha Sucupira.

Bandinha Sucupira – As 14 mais juninas
1977 – SOM

01 Lá Vem a Rita (Haroldo Lobo / Milton de Oliveira)
02 Pula a Fogueira (Getúlio Marinho / João Bastos Filho)
03 Cai Cai Balão (Assis Valente)
04 Sonho de Papel (Alberto Ribeiro)
05 Antônio, Pedro E João (Benedito Lacerda / Osvaldo Santiago)
06 O Delegado Quer Prender o Antônio (Haroldo Lobo / Milton de Oliveira)
07 O Sanfoneiro Só Tocava Isso (Haroldo Lobo / Geraldo Medeiros)
08 Siá Mariquinha (Luis Assunção / Evenor Pontes)
09 O Casório da Maria (Haroldo Lobo / David Nasser)
10 Isto É Lá Com Santo Antônio (Lamartine Babo)
11 Noite de Junho (Fernando Lobo / Paulo Soledade)
12 Santo Antônio Sabe (Haroldo Lobo / Milton de Oliveira)
13 Chegou A Hora da Fogueira (Lamartine Babo)
14 Dia dos Namorados (Haroldo Lobo / Milton de Oliveira)

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