Cap05 – O que a palavra Forró significa? – Livro – O que é o Forró? (2022)
Muitos atribuem equivocadamente o termo “Forró” à expressão “for all”, o que numa tradução livre significa “para todos”. Supostamente cunhada pelos ingleses da companhia férrea “Great Western”, estabelecida no nordeste brasileiro por 70 anos a partir de 1881 e/ou como forma de atrair a soldadesca americana, durante a segunda guerra, às reuniões musicais (e dançantes) realizadas nos galpões das estações, também conhecidas como “a Festa”, “o Samba”, “o Pagode”, “o Zambé”, “o Arrastapé” e/ou “o Forró”. Mais antiga que as peripécias estrangeiras, não seria difícil imaginar exatamente o inverso, tendo a arraigada palavra do vocabulário local ativado uma espécie de “trocadilho bilíngue”, sutil expressão do humor inglês misturada à inventividade tropical, pendurada nas famosas plaquinhas da memória coletiva. “Forroóóll”?
Mais convincente – e embasada – é a linha de raciocínio que aponta a palavra Forrobodó como sendo a fonte original da abreviatura Forró, que chegou ao Brasil com os africanos escravizados de diferentes grupos étnicos. No ramo linguístico bantu significa “bagunça” ou “confusão”, circunstâncias frequentes nesses bailes populares do interior nordestino do século 19.
Fossem nas casas de fazendas, terreiros dos sítios, quintais ou ruas dos povoados, os encontros misturavam variados estilos musicais e expressões corporais (dança). Uma grande miscigenação cultural aconteceu na música, nas danças, nos costumes e no idioma.
Até hoje podemos notar influências e apropriação de palavras africanas absorvidas pelo português falado no Brasil. Uma palavra muito presente no vocabulário nordestino é “Xodó”, que significa companheiro(a) ou xamego, na língua Fon, originária do Golfo de Benin, na África Ocidental.
A partir de meados do século 19, a formação instrumental da música do Forró passou a ser centralizada na lendária Sanfona de 8 Baixos. Entretanto, os encontros, festas e confraternizações datam de muito tempo antes e eram animadas por diversos instrumentos, como Pífanos, Gaitas, Violas e Rabecas, dentre muitos instrumentos de percussão. Esse eclético conjunto de gêneros, encontros, ritos, danças e prazeres intitulou-se “Forró”.
Nesses encontros havia música cantada e tocada, ao vivo, e muita dança. Pessoas de todas as idades, de diferentes classes sociais, casados, solteiros, crianças, adultos, jovens e idosos, dançavam sozinhas ou em pares.
A manifestação cultural ganharia maior força com a expansão da indústria fonográfica e as projeções midiáticas do pernambucano Luiz Gonzaga, no início da década de 1940, e do paraibano Jackson do Pandeiro, na década de 1950. Foram os principais expoentes da popularização nacional dos ritmos originalmente nordestinos, como Baião, Coco, Rojão, Xaxado e Arrastapé, entre outros, chancelados todos com o selo “Forró”.
Nessa época, a popularização do rádio, aliada ao desenvolvimento das tecnologias de gravação e reprodução de áudio, ao charme dos discos de vinil e às vozes destes representantes da cultura nordestina, espalharam o Forró para todos os cantos do Brasil. Divulgaram a música e fomentaram sobretudo os eventos, encontros, bailes e confraternizações, o que potencializou, regionalmente, diversas maneiras de dançar e se expressar.
Parte do livro: O que é o Forró? Um pequeno apanhado da história do Forró./ Ivan Dias e Sandrinho Dupan. 2022 ISBN978-65-997133-0-9
Projeto contemplado pela 2a Edição do Fomento ao Forró, da “Secretaria Municipal de Cultura” da cidade de São Paulo.
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