Cap08.01 – Lundu – Livro – O que é o Forró? (2022)
Ritmo e dança que evoluiu a partir dos Calundus; nomenclaturas genéricas para os rituais e aglomerações com “Batuques, vozerias e danças dos pretos”.
Em meados do Século 18, na Europa, prosperava um novo formato de música, nas casas dos ricos, derivado de cantos teatrais e melodias operísticas, que eram similares na sua estrutura e tinham nomes diferentes em cada país.
O Lundu é um ritmo ancestral musical vindo da mistura da ‘imparidade rítmica’ dos Batuques com as Modinhas, gênero musical brasileiro/português, muito apreciado pela classe alta, executado por cantos acompanhados de Violas de Arame, Cavaquinhos e Bandolins.
A imparidade rítmica consiste em um grupo de fórmulas rítmicas na qual se misturam agrupamentos de binários e ternários, dando origem a períodos rítmicos pares com uma síncope característica. Fenômeno pouco difundido na música erudita europeia e natural nas músicas e ritmos africanos e árabes.
Essa síncope do Lundu ocorria nas melodias e no acompanhamento. Nas melodias, essa síncope preservava a influência árabe, através da música ibérica; e no ritmo a síncope tem clara origem africana.
O contato tropical da música ternária europeia e o ritmo africano binário, propiciou a miscigenação dos ritmos, a criação de um novo e contagiante gênero. A dança e a música aos poucos desenvolveram-se numa manifestação única e irresistível.
O Lundu dos brancos recebeu influências europeias do que havia de mais moderno na época: estrutura de tema e variação, improviso sempre presente para alongar as peças e dar visibilidade para os músicos, vozes leves e ágeis, poética estrófica, simetria, periodicidade e articulação das frases, com ou sem estribilho e comumente tinham uma temática de amor e romance.
Já dentre os negros e mestiços, o Lundu tinha características marcantes oriundas dos africanos, como os improvisos de canto e resposta, sátiras picantes, letras cômicas, jocosas ou de duplo sentido, bom humor e sensualidade nas expressões idiomáticas e nos trocadilhos em crioulo, dialeto do Cabo Verde, arquipélago africano usado como entreposto do tráfico negreiro.
Zabumba Lundu:
Os Batuques eram uma designação genérica para diferentes manifestações. Havia três tipos de Batuque:
Dos Calundus, a musicalidade brasileira herdou o ritmo, o compasso africano. Durante o século 17, os senhores de engenho e pessoas poderosas possuíam bandas de escravos que faziam música, tanto nas senzalas e nos terreiros, quanto nas salas de estar das casas grandes, festas da igreja e ocasiões festivas dos povoados, dominando um vasto repertório, erudito e popular.
O Lundu era tocado nas classes baixas, nas periferias, por pequenas bandas com temáticas tristes e lamentos. E nas classes mais abastadas com um viés mais romântico e poético, com grande influência das Modinhas.
Nessa época, surgia na Europa o conceito de concertos públicos e peças para 2 vozes e 2 instrumentos, o que influenciou também o Lundu e fez com que se espalhasse mais ainda por todo o nordeste. Em Pernambuco, a manifestação era mais rural, conduzida por dois tocadores de Viola e cantada no sistema de desafio, com versos de improviso, semelhante aos repentistas e emboladores atuais.
No final do século 18, o Lundu virou febre em Lisboa com sua música e sua dança. Ficou conhecido como a “Dança Venturosa” por conta das umbigadas.
Partiu de uma manifestação folclórica/religiosa (Semba/Calundu), passou a ser popular (Lundu-dança), ganhou erudição, foi apresentado nos grandes teatros e teve suas partituras aprimoradas pelos melhores músicos europeus da época (Lundu-canção), até voltar a ser popular (bailes populares).
Com a mudança da família real para o Brasil, em 1808, o rei tentou levar o máximo da modernidade para o Rio de Janeiro, importando artistas e professores de música e dança europeus. Fato que colocou mais tempero na mistura que já estava quente e cheia surpresas.
No início do século 19, surge o Fado, que aos poucos viria a tomar o espaço do Lundu na cena cultural europeia. Continuou existindo no Brasil no formato de Lundu-canção. O Fado e a Chula são os descendentes que o Lundu deixa no velho continente.
No nordeste, o Lundu deixou de existir nas cidades, mas sobreviveu no interior, passando por um processo evolutivo constante até ser resgatado e ressurge como um produto de mídia, usando seu apelido: Baião.
No início do século 20, quando a tecnologia de gravação e reprodução de áudio evoluiu e chegou ao Brasil, permitindo que discos fossem gravados, produzidos e publicados em território nacional, o Lundu ainda estava em alta, tanto que foi escolhido para a primeira gravação brasileira.
Parte do livro: O que é o Forró? Um pequeno apanhado da história do Forró./ Ivan Dias e Sandrinho Dupan. 2022 ISBN978-65-997133-0-9
Projeto contemplado pela 2a Edição do Fomento ao Forró, da “Secretaria Municipal de Cultura” da cidade de São Paulo.
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