Brasil Party Forrobodó, com Miltinho Edilberto, ao vivo!

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Brasil Party Forrobodó – Stuttgart – Germany * Festival 2009

Do dia 3 ao dia 5 de abril realizar-se-á em Stuttgart a 2° edição do maior Festival de Forró de toda a Alemanha!

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No Sábado à noite haverá, como de costume, a maior Festa de Forró da Alemanha:

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O renomado compositor e cantor Miltinho Edilberto, considerado como um dos melhores Violeiros do Brasil, irá diretamente à Stuttgart, como atração principal do Festival, levanndo o seu Forró de Viola.

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Com músicos convidados, cantando suas composições que já são conhecidas do público do Forró, ele proporcionará o melhor show de Forró que Stuttgart jamais vivenciou…!

Para saber mais, acesse www.miltinhoedilberto.com.br

Festival Internacional da Sanfona

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Será nas margens do Rio São Francisco, que atravessa regiões e faz divisa entre os estados da Bahia e de Pernambuco, que será realizada a primeira edição do Festival Internacional da Sanfona.

O evento gratuito sobre o universo da sanfona acontece nas cidades de Juazeiro – BA e Petrolina – PE, entre os dias 16 e 21 de março de 2009.

Inclui atividades educativas, exposições e espetáculos, abrindo as comemorações do aniversário de Luiz Gonzaga (13 de dezembro).

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O instrumento

Com mais de 3.200 anos de história, descendente do milenar Sheng chinês e patenteada em Viena ainda no século XIX, no ano de 1827, a sanfona ou acordeon, ícone do nordeste brasileiro ainda é hoje, o principal instrumento das festas tradicionais brasileiras, presente na maioria dos arranjos musicais dos mais variados gêneros e estilos. Ainda hoje, o instrumento é muito praticado na Alemanha, nos Estados Unidos, Itália, interior da França, Bulgária e até no Japão.

Principais shows:

Dominguinhos
Targino Gondim
Renato Borghetti
Oswaldinho do Acordeon
Cicinho de Assis
Raimundinho do Acordeon
Sérgio do Forró
Orquestra Sanfônica do Recife
Biliu de Campina
Luizinho Calixto
Zé Calixto, conhecido com o Rei dos 8 Baixos
Geraldo Correa, legendário sanfoneiro octogenário
Mestre Camarão, principal professor de sanfona do país

Maiores informações no www.festivaldasanfona.com.br.

Livro – Sambexplícito: as vidas desvairadas de Germano Mathias

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Sambexplícito: as vidas desvairadas de Germano Mathias, editora A Girafa, 2008, de Caio Silveira Ramos.

Recebemos do próprio Caio, um exemplar desse belíssimo livro sobre a vida do Germano Mathias. Embora a maioria possa achar que o Germano é um sambista e não tem nada a ver com o forró. Isso é um grande engano.

Houve um tempo em que os ritmos andavam lado a lado, assim como seus compositores e intérpretes eram mais ecléticos e os ritmos eram menos segmentados do que são hoje em dia.

Segue abaixo alguns trechos do e-mail que ele nos enviou falando do livro e de algumas das relações do Germano com nossos conhecidos artistas forrozeiros:

“Acabo de lançar meu livro ‘Sambexplícito: As vidas desvairadas de Germano Mathias’ e durante sua elaboração me enfronhei no universo da música do Norte e Nordeste. Germano é um sambista paulistano, cuja especialidade é o samba sincopado, a importância da música do Norte e Nordeste é tão grande na elaboração do seu estilo que meu livro trata de muitos desses artistas mostrados no ‘Forró em Vinil‘.

Por isso escrevi muito (às vezes em capítulos específicos) sobre o excepcional Jorge Costa (músico, principalmente sambista, alagoano, gravado, por exemplo, por Zito Borborema), Venâncio (que compôs muito para Germano Mathias e foi uma figura humana excepcional: reclamo inclusive no livro sobre a inexistência de CDs que resgatem sua obra com Corumba) e Kazinho (músico paraense).

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Abro uma extensa discussão sobre a influência da música do Norte e Nordeste sobre o samba (em especial o sincopado) e digo da relação de Germano com Manezinho Araújo e Gordurinha (foi grande amigo de ambos – aliás o LP do Gordurinha recém colocado no ‘Forró em Vinil‘ (Mamãe, estou agradando) apresenta músicas que o Germano canta há muito tempo e que inclusive foram apresentadas recentemente – e de forma magnífica – no Programa ‘Sr. Brasil’ do Rolando Boldrin: Marido de Vedete, Calouro Teimoso e Súplica Cearense).

Ademais, Mathias também gravou músicas de Luiz Wanderley, do próprio Gordurinha e Elias Soares. Isso sem contar que planeja gravar há muitos anos um CD de cocos sincopados (ele tem o repertório todo pronto). Por isso o livro trata também de Jackson do Pandeiro (de quem Germano foi também amigo), de Osvaldo Oliveira e Jacinto Silva (aliás, Jacinto é um dos homenageados no meu agradecimento).

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Foi Mathias quem me chamou a atenção para a obra de Jacinto e Osvaldo (a maioria dos cocos selecionados por Germano são deles), músicos de quem sou fã e divulgador desde então. No ‘Forró em Vinil‘, encontrei finalmente aqueles cocos e rojões que Germano tanto cantava há muitos anos: discos que ele teve e perdeu e agora eu consigo, graças a vocês, trazer de volta para ele ouvir. Aliás, também constam desse repertório de Germano: Elino Julião, Ary Lobo, Edgar Ferreira, entre outros.”

O livro tem uma forma muito peculiar e interessante de retratar e navegar por versos e histórias, da obra e da vida do Germano, suas influências, hábitos e façanhas, um misto de fatos contados de forma fluida e romantizada, junto com, relatos e entrevistas, formas bastante informativas que ajudaram a contextualizar as ‘origens’ e as relações do Germano e de alguns dos artistas que vieram a se destacar como forrozeiros.

Germano Mathias, assim como Jacinto Silva, Jackson e Genival, também é conhecido pela facilidade com que lida com a divisão rítmica e a usa para caracterizar o seu samba “sincopado”.

Como quem não gosta de samba, bom sujeito não é, leiam o livro e conheçam essa figura que conviveu e interagiu com vários de nossos ídolos, Germano Mathias.

Germano Mathias – Germano Mathias

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Para ilustrar a publicação do livro do Caio Silveira Ramos, temos aqui uma colaboração extra do Jorge Paulo. Só pra dar uma variadinha no forró, um disco de samba de primeiríssima linha. Abaixo um trecho de um texto de Dafne Sampaio.

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“Germano Mathias nasceu no dia 02 de junho de 1934 no bairro do Pari, zona leste de São Paulo. Passou infância e adolescência estudando no Centro da cidade e quando saía da escola dava de cara com as rodas de batucada feitas pelos engraxates nas praças Clóvis Bevilacqua e João Mendes.

Todos batucavam nas próprias latinhas de graxa e Germano passou então a acompanhá-los. Logo se mostrou espantosamente hábil o que lhe valeu um convite para tocar frigideira na bateria da Escola de Samba Rosas Negras. Incentivado por um amigo batuqueiro, participou em outubro de 1955 do concurso À Procura de Um Astro na Rádio Tupi.

Ganhou o primeiro lugar com um samba sincopado e logo foi contratado pela rádio que o registrou como ‘cantor e executante de instrumentos exóticos’ (a tal lata de graxa).Esse estilo de samba com divisões bem marcadas e uma batida diferente tornou-se a marca registrada do cantor, e eventual compositor.” (Veja o texto completo no seu contexto original)

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Para encerrar essa publicação, um trecho do livro ‘Sambexplícito: As vidas desvairadas de Germano Mathias’ de Caio Silveira Ramos, sobre esse disco:

“Além de “Eu e a saudade pela rua”, “Meu viver”, “Como é que pode” e o inesquecível “Deu a louca na nega” todos do compositor paraense (Kazinho), são também destaques do disco, sambas de Caco Velho, Jorge Costa, Padeirinho, Henricão e Laurindo Saudade.”

Até hoje, segundo Caio, são 17 discos de 78 RPM, 10 LPs, 3 CDs e um DVD. E segundo Bezerra da Silva: “o que Germano faz, ninguém consegue fazer igual”

Germano Mathias – Germano Mathias
1974 – Beverly – AMC

01. Na casa da Tia Ciata (Artulio Reis / Monalisa)
02. Luto no morro (Jorge Duarte)
03. Testamento de sambista (Henricão / Mário Augusto)
04. Criançada bamba (Laurindo Correia / Popó da Cuíca)
05. Zé da pinga (Padeirinho)
06. Conselho de coroa (Padeirinho)
07. Como é que pode (Kazinho)
08. Quisera que soubesses (Ari de Jesus / Rodolfo Vila)
09. Deu a louca na nega (Kazinho)
10. Não é da Bahia (Jorge Costa / Padeirinho)
11. Cachorro da vizinha (Caco Velho)
12. Meu viver (Kazinho)
13. Eu e a saudade pela rua (Kazinho)

Para baixar esse disco, clique aqui.

Se estiver com dificuldade para baixar e descompactar os arquivos, tire suas dúvidas em nosso manual “passo a passo”, clique aqui.

CD – Trio Manuê – Pra não ficar na mão

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O Trio Manuê surgiu em 16 de junho de 2007. Obteve o 2º lugar no Festival de Itaúnas de 2007,com a música “Deixe de arrelia”.

Formado por Zezito Pereira, Cebola e Valdo, lança seu 1º CD “Pra não ficar na mão”. Um time de feras participou dessa gravação, composições novas e muito boas, com várias participações especiais.

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“Todos os membros do grupo têm experiências no mundo musical desde a infância. Zezito, por exemplo aprendeu a gostar de forró aos 6 anos e aos 11 foi convidado para acompanhar os shows de Genival Lacerda. Durante a carreira, também já tocou ao lado de Raimundo Sodré, Fagner, Moraes Moreira, Elba Ramalho, Alceu Valença, Zé Ramalho, Amelinha, Mestre Zinho e os dois últimos shows do Jackson do Pandeiro.

Cebola fazia voz e violão com 9 anos de idade nos bares de João Pessoa e até já se aventurou no teatro, quando, aos 16 anos, atuou em “Os Saltimbancos”. Nandinho também começou cedo, aos 9 anos, por influência do pai Fernando do Acordeon. Hoje, aos 19 anos, é considerado grande revelação do forró pé-de-serra. Reunido desde o início de 2007, o Trio Manuê vem realizando diversos trabalhos em São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, entre outros.” (Fonte)

Trio Manuê – Pra não ficar na mão
2008

01 Deixe de arrelia (Elton Moraes)
02 Te encho de paixão (Elton Moraes)
03 Pra não ficar na mão (Zezito Pereira)
04 Te confesso meu amor (Sivaldo – Elton Moraes)
05 Arte do destino (Sivaldo)
06 Ruiva apimentada (Elton Moraes)
07 Coração doidim (Elton Moraes)
08 Forró maneiro (Mestrinho)
09 O dengoso (Elton Moraes)
10 Pra xaxar (Zezito Pereira – Mestrinho)
11 Doce de manuê (Elton Moraes – Sivaldo)
12 Sofri por te amar (Tiziu)
13 Doeu (Mestrinho – Erivaldinho)

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Toninho Ferragutti

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Foto acima de Pierre Yves Refallo, extraída do Sítio Circular Brasil.

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Foto acima extraída do Eye for talent (Fonte)

Coletânea – Canjica, pamonha e rojão

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Colaboração do Lourenço Molla, de João Pessoa – PB, um disco produzido pelo Jackson do pandeiro, coisa muito fina.

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Essa preciosa coletânea reúne Manoelzinho Silva, Severo, Marinalva, Jackson do Pandeiro, Haroldo Francisco, Alventino Cavalcanti.

Destaque para “Benedita Bole-bole” de Haroldo Francisco e Jair Maia.

Coletânea – Canjica, pamonha e rojão
1977 – Chantecler

01. Sonho junino (Adão Ferreira) Marinalva
02. Flor de bananeira (D. Martins – Nito Canhete) Manoelzinho Silva
03. Forró mengo (João Severino da Silva – Manoel Serafim) Severo
04. Pedindo perdão (Alventino Cavalcanti – Rocha Sobrinho) Alventino Cavalcanti
05. Cadê Cazuza (Clarinha Rodrigues – D. Martins) Haroldo Francisco
06. A estória do anel (Severino Ramos – Antonio Rodrigues) Jackson do Pandeiro
07. Benedita bole-bole (Haroldo Francisco – Jair Maia) Haroldo Francisco
08. Estou às suas ordens (Antonio Ramos – José Pareira) Manoelzinho Silva
09. Pra remexer (João Severo da Silva) Severo
10. Se acabando no xaxado (Jacy dos Santos – Alventino Cavalcanti – Antonio Rodrigues) Alventino Cavalcanti
11. Louvor à São João (Zezinho – Inácio Virgulino) Marinalva
12. Vem cá Maria (Dominguinhos – Durval Vieira) Jackson do Pandeiro

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Camarão

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O sanfoneiro Camarão.

Foto extraída do Eye for talent (Fonte)

Os 3 do Nordeste – Botando quente

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Colaboração do Pipoca, do trio Os sociais do forró. Outro dia fui até a casa do Pipoca e peguei alguns LPs emprestados para digitalizar e publicar aqui, para todos. Peguei alguns discos muito interessantes, entre eles, esse de 1982, que nos ajuda a compreender a magnitude que atingiram os 3 do nordeste no início da década de 1980.

Segundo o Marco Antonio, de Patos – PB: “esse LP dos 3 do Nordeste é de 1983. Ele tem a música “Volta Lindú” de Pinto do Acordeon, feita em 1981, quando Lindú estava doente. Ele foi gravado no fim de 1982, por isso a data.”

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Um álbum muito bom, o primeiro dos 3 do nordeste que não foi produzido pelo Abdias. A produção e direção de estúdio ficou sob responsabilidade de Bastinho Calixto, assistência de produção e triângulo de Hermelinda, além de arranjos e acordeons de Maestro Chiquinho e Zé Américo.

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Gravado em 16 canais, com participação de Zé Calixto tocando reco reco em algumas faixas, coro feito pelos 3 junto com Hermelinda, destaque para “Botando quente” de Bezerrão e Erivan Alves, Erivan é também conhecido como Zinho.

Destaque também para o xote “Desafio” de Agripino Aroeira e Rosilda Santos; e para a música que se tornou um clássico, “Toque de fole” de Bastinho Calixto e Ana Paula, pra quem não sabe, Ana Paula é a Hermelinda.

Os 3 do Nordeste – Botando quente
1982 – Veleiro

01 Botando quente (Bezerrão – Erivan Alves)
02 Desafio (Agripino Aroeira – Rosilda Santos)
03 Toque de fole (Bastinho Calixto – Ana Paula)
04 Forró dos arrochados (Erivan Alves – José Pacheco)
05 É cedo ainda (Nininha – Aluizio J. Silva)
06 Vamos forroriar (Manoel Vidal)
07 Mal de amor (Agripino Aroeira – Rosilda Santos)
08 Volta Lindú (Ferreira Pinto – Parafuso)
09 Namoro inchirido (Erivan Alves)
10 Cacho de amor (Agripino Aroeira – José Pacheco)
11 Forró tempero (Ferreira Pinto)
12 Tá ai o forró (Erivan Alves – Carlos Albuquerque)

Para baixar esse disco, clique aqui.

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13 de Dezembro – Dia do forró

Recebemos esse texto do Jonas Duarte, professor doutor do Departamento de História da UFPB, em João Pessoa – PB. Gostei muito do que li e compartilho das opiniões descritas, com convicção.

sanfona (Foto de Deia Silva, fonte)

“Foi decretado há alguns anos, o dia 13 de dezembro como o dia nacional do forró. A data é em homenagem a Luiz Gonzaga, que nasceu nesse dia, em 1912. Considero a homenagem muito justa e a data muito especial.
O forró também é considerado, pelo IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, patrimônio imaterial do povo brasileiro. Um grande patrimônio. É a música que mais gosto. Não digo que seja a melhor ou a mais bonita música do universo musical brasileiro, riquíssimo por sinal. Apenas a que mais gosto. Certamente tenho razões para isso. Considero o forró a minha música, a da minha identidade. Minha representação. Lógico, um matuto cheio de orgulho de ser matuto como eu, só pode gostar da música de matuto – forró. Embora conheça dezenas, centenas, talvez milhares de pessoas, nascidas e vividas no mesmo ambiente que eu e que não gosta, não sabe e nunca ouviu forró. Apreciam outros estilos musicais. Respeito todos. Mas há ainda hoje grande preconceito com o forró. É considerada por muitos como uma música inferior. Lógico que discordo e acho que esse preconceito tem a ver com as origens populares do forró, como afinal da grande maioria dos ritmos.

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Sivuca dizia que Gonzaga tirou o forró dos cabarés, das zonas, da periferia. Que com Gonzaga o forró deixou de ser coisa só de pobre matuto, de retirante, miserável nordestino e colocou nos salões da burguesia, da elite brasileira. O forró foi até internacionalizado.
Não sei se há alguma importância em se internacionalizar o forró. Mas sei que há importância em defender essa música. Essa bandeira. Como uma música nossa. Como uma representação cultural da vida do povo brasileiro. De suas alegrias, de seus dramas. É assim que escuto sua melodia.
Viajo ao som dos acordes de Dominguinhos, da mesma forma que viajo ouvindo a pastoral, a sinfonia Nº. 6 de Beethoven, minha preferida.
Quero falar aqui apenas do forró instrumental, tocado por forrozeiros de oito baixos.

Por esses dias montei um CD MP3 com uma coletânea espetacular de forró. Só instrumental. Fenomenal. Como tenho estado muito tempo dentro de um carro pra cima e pra baixo. Escuto muito o CD, com 265 músicas. As de Zé Calixto, o filho de seu Dideu, esse mágico dos oito baixos, já conhecia todas. Afinal tenho sua coleção completa. Do primeiro ao último disco. As músicas de Geraldo Correia, considerado por Dominguinhos como o melhor de todos; como o mais completo tocador de oito baixos do Brasil, segundo o mestre, filho de seu Chicão, são maravilhosas. Os dois expressam, e isso é muito interessante, a musicalidade de Campina Grande, Recife e Rio de Janeiro, por onde circulavam os forrozeiros da cidade.

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Jackson do Pandeiro, líder desse pessoal, tinha um programa na Rádio Nacional, de onde difundia o forró e todos esses artistas que fizeram de Campina Grande, nas décadas de 1950, 60 e 70 o Quartel General do forró e ponto natural do intercâmbio com o Rio de Janeiro à época, considerado a “capital cultural” do País. O forró e a música que eles tocam tem vários eixos geográficos. O de Zé Calixto e Geraldo Correia é esse. Daí em suas obras musicais se encontrar o “Rojão” campinagrandense , o frevo pernambucano (com forte influência em Campina Grande, onde Capiba morou por muitos anos e deixou raízes) e o samba carioca, que virou Samba Nordestino, ou Samba Brega mais recentemente. Além disso, a gravadora Cantagalo, que abrigava boa parte dos forrozeiros “nortistas” também ficava no Rio, com uma distribuidora em Recife.

Outro tocador de oito baixos que destaco é Noca do Acordeon. O som tirado por Noca dar a impressão que o fole de oito baixos foi inventado pra ele e para o forró. Nota-se a influência de Gonzaga no “roncado” de seu fole. Nossa! Ele toca valsas, boleros cubanos e se aventura por tangos argentinos, simplesmente maravilhosos, divinos. Um craque. Coisa de deleite sonoro. Manoel Maurício é outro craque nessa arte. Faz o fole pegar fogo. Adolfinho e Gerson Filho são geniais. Destaque para o acompanhamento de todos. O chocalho, o violão e, em muitos casos o cavaquinho. Noutros já se escuta o Baixo, em alguns inclusive, o eletrônico, demonstrando que o instrumental que se usa pode não alterar a proposta musical do artista. E estes forrozeiros são fieis a um estilo clássico de forró.

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Severino Januário, irmão mais velho de Gonzagão, discípulo, como o irmão famoso, do velho Januário, o pai de tudo isso, também é genial. Ele notadamente prefere os Arrasta-pés, aquelas marchas maravilhosas, especiais para dançar quadrilhas. Gabriel e Pedrinho, meus filhos, foram embalados desde cedo por aquela música. Ainda em 1999 comprei meu primeiro CD de Severino Januário e como não conseguia parar de ouvir e precisava colocar Gabriel, recém-nascido, para dormir; era ouvindo o fole de Severino Januário que ele adormecia. Distingo o som do fole de Severino Januário nos primeiros acordes, à distância. Hoje tenho a coleção completa dele, e cada dia amo mais essa beleza sonora.

No entanto, para mim, o melhor, que me desculpe Dominguinhos e todos os entendidos em música, é Pedro Sertanejo, o pai de Oswaldinho. A música dele é impressionante. É forró puro. Lembra-me os forrós de Mané Virgulino, lá na Serra do Monte, tomando cachaça em chapéus e voltando sendo trazido por minha égua Quixaba. Os forrós na casa de Detim (no Zacarias). Ou os da casa de Mané Torquato… Lembra-me as Emas da minha infância cheia de festa, de alegria, de forrós. A música tocada por Pedro Sertanejo é uma torrente de invernada sobre um verão demorado. É uma noite de trovoada. Quem já foi no Cariri numa noite de trovoada, a chuva vindo de recuada, sabe do que estou falando. O som do fole de Pedro Sertanejo entra pelos ouvidos e pelos poros. Ao mesmo tempo em que é suave é quente. É como a Salsa ou a Rumba ou o Chá chá chá cubanos. É como o Frevo. Impossível não mexer com a gente, com algum músculo. Como diz Gonzaga se referindo aos vaneirões gaúchos: é como uma narrativa musical das conchilas (fazendas) do Rio Grande. A música de Pedro Sertanejo é a narrativa sonora da paisagem do nosso sertão. De nossas serras, nossa mata, nossos pássaros. De nossa gente alegre, disposta a viver, a lutar pela vida com alegria e força. Ouvindo o fole de Pedro Sertanejo não imaginamos seca, miséria ou pobreza em nossas terras. Só a vida verdejada…. plagiando Jessier Quirino. É um rebuliço…

luiz-gonzaga-e-humberto-teixeira (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

Falaria ainda de Luizinho Calixto, sobrinho de Zé. Seu estilo é mais refinado e toca um chorinho amuado. É genial. Luizinho é sujeito que tem um grau cultural mais elevado. Estudou mais. Estudou música inclusive. É uma espécie de representante político dos forrozeiros dos oito baixos. Seu programa na rádio Verde Mares de Fortaleza é um espaço da resistência forrozeira Brasil afora. Hoje deve estar em Exu, terra natal de Gonzaga, no Parque Asa Branca – local estruturado por seu Luiz Lua Gonzaga para se celebrar o forró. No pé da chapada do Araripe que tanto inspirou Gonzaga. Essa divisa de Pernambuco e Ceará. Luizinho participa da organização do aniversário do Lua do Nordeste que hoje estaria completando 96 anos.

Caravanas de amantes do forró se deslocam para casa de Gonzaga. A cozinheira de Gonzaga, remanescente do seu tempo faz feijoada, buchada, galinha de capoeira o dia todo. A festa que começou desde o fim de semana passado, hoje toma conta do alpendre da casa de Gonzaga. Sanfoneiros de perto e de longe circundam uma mesa enorme cheia de cerveja e cachaça e tocam músicas de Gonzaga e forró de toda natureza. Fazem-se desafios de sanfonas como de violeiros. Um puxa o fole de cá o outro responde de lá. Pessoas do povo ocupam o parque onde Gonzaga e familiares estão enterrados no mausoléu e onde há um museu com a obra gonzagueana. A noite é festa com vários convidados na quadra de shows. Hoje acho que será debaixo de chuva, como gostava Gonzaga. Amanhã, sob dois juazeiros plantados por Gonzaga, no pátio da fazenda, desfilam uma gama de sanfoneiros e se dar o prêmio Asa Branca ao artista que tenha se destacado na defesa do forró durante o ano. É belíssimo. Em paralelo, organiza-se uma feijoada a ser distribuída para todos moradores de Exu e aos convidados.

gonzaga-caricatura-ique (Caricatura feita por Ique)

É isso. Como diz Gilberto Gil, quando colocou letra, em 1996, na música ’13 de dezembro’ que Gonzaga compôs e gravou em 1950. ‘É desse treze de dezembro que eu me lembrarei. E sei que não esquecerei jamais’. Êita Gil….

13 de dezembro – Gilberto Gil

‘Bem que essa noite eu vi gente chegando
Eu vi sapo saltitando e ao longe
Ouvi o ronco alegre do trovão
Alguma coisa forte pra valer
Estava pra acontecer na região

Quando o galo cantou
Que o dia raiou
Eu imaginei
É que hoje é treze de dezembro
E a treze de dezembro nasceu nosso rei

O nosso rei do baião
A maior voz do sertão
Filho do sonho de Dom Sebastião
Como fruto do matrimônio do cometa Januário
Com a estrela Sant’Ana
Ao romper da era do Aquário
No cenário rico das terras de Exu
O mensageiro nu dos orixás

É desse treze de dezembro que eu me lembrarei
E sei que não esquecerei jamais’

Nem lembro que a 13 de dezembro de 1968 (40 anos atrás) os milicos nos meteram o AI 5.”

Jonas Duarte, ouvindo 13 de dezembro na voz de Elba Ramalho no disco “Leão do Norte” – maravilhoso.

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