Governo do Estado tomba Parque Aza Branca e antiga casa de Januário

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*Link enviado pelo Jairo Melo, o texto é de Débora Duque.

Ambientes de origem e memória do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, tornam-se patrimônio cultural de Pernambuco. Poder público passa a ser responsável pela sua preservação

Os locais que abrigam grande parte da história de Luiz Gonzaga do Nascimento, o pernambucano que fez o Brasil conhecer o cotidiano do povo nordestino, estão agora sob os cuidados do poder público. Isso porque o Parque Aza Branca e a casa do seu pai, Januário, em Exu – cidade natal do Rei do Baião – foram tombados, na última sexta-feira, por meio de aprovação unânime do Conselho Estadual de Cultura e posterior homologação do Governo do Estado.

A ação de tombamento, iniciada em julho de 2007, contempla os 3,7 hectares do parque, que abriga o Museu do Gonzagão e da Casa de Luiz Gonzaga, e a antiga casa onde viveu seu pai, localizada na Vila da Fazenda Araripe. Com o tombamento definitivo, ambos os locais começam a receber intervenções da Fundarpe.

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Até a concretização do processo de tombamento, a equipe da Fundarpe realizou, durante dois anos, pesquisas históricas e exames técnicos nos espaços, com o objetivo de identificar e atestar a relevância cultural destes locais para Pernambuco e para o país. Além disso, profissionais da Fundação estiveram em Exu realizando um levantamento do acervo de Luiz Gonzaga bem como um diagnóstico da situação dos imóveis que compõem o Parque Aza Branca.

Além do Museu do Gonzagão e da Casa de Luiz Gonzaga, o parque abriga também outras instalações, como o Ponto de Cultura Alegria Pé-de-Serra, o mausoléu de Gonzagão (onde se encontram os restos mortais do Rei do Baião), dois palcos para eventos e ainda duas pousadas, denominadas Santana e Januário – em homenagem a sua mãe e a seu pai. Abrigando um cenário típico do Sertão pernambucano, o parque conta ainda com um viveiro de pássaros da espécie asa branca, além de juazeiros e cactáceos distribuídos por todo o local.

Já a antiga Casa de Januário é o mais antigo testemunho da vida do Rei do Baião. Situada na vila da Fazenda Araripe, a casa, feita de taipa, guarda as lembranças do tempo em que Luiz Gonzaga partiu da cidade, retornando apenas em 1946. Foi justamente o reencontro com o seu pai que originou a música Respeita Januário.

Segundo a presidente da Fundarpe, Luciana Azevedo, o tombamento desses dois locais marca apenas o início de um longo processo de ações do poder público para resguardar a memória e a história de Gonzagão. “Após essas etapas de investigação e estudos, foram abertos caminhos por onde poderemos intervir na preservação e recuperação destes patrimônios. Esse conjunto de ações do Governo do Estado culminará com a chegada do Festival Pernambuco Nação Cultural a Exu, no mês de dezembro, comemorando o aniversário do mestre”, afirmou.

ESPECIAL – De 3 a 7 de julho de 2009, o portal Pernambuco Nação Cultural presta homenagem ao mestre Luiz Gonzaga, na passagem dos seus 20 anos de morte, e apresenta trabalhos de artistas pernambucanos inspirados no Rei do Baião. (Maiores informações)

Zé Paraíba – O rei da sanfona

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Colaboração do sergipano Everaldo Santana.

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A primeira vez que ouvi esse disco, achei que estava com o andamento um pouco acelerado, se fosse num toca discos normal, eu teria mexido no pitch com toda certeza do mundo. Mas é só a primeira impressão, o danado do sanfoneiro que é rápido nos dedos.

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Todas as músicas desse disco são instrumentais, a maioria de autoria do próprio Zé Paraíba.

Zé Paraíba – O rei da sanfona
1982 – Beverly

01 Forró pesado (Renato Leite)
02 Terezinha (Renato Leite)
03 Jaboatão (Zé Paraíba)
04 Choro em Patos (Zé Paraíba)
05 Arrasta pé em Maringá (Zé Paraíba)
06 No meu roçado (Zé Paraíba)
07 Campo Grande (Zé Paraíba)
08 São José de Lagoa Tapada (Zé Paraíba)
09 Paulo Afonso (Luiz Gonzaga – Zé Dantas)
10 O xote das meninas (Luiz Gonzaga – Zé Dantas)
11 Imperatriz (Zé Paraíba)
12 Caruarú (Zé Paraíba)
13 Forró em Belo Jardim (Zé Paraíba)
14 Forró em Salgueiro (Zé Paraíba)

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Erivaldo de Carira

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*Foto enviada pelo Thiago Ribeiro.

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Novinho da Paraíba – Novinho da Paraíba

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Colaboração do Maicon Fuzuê, do Trio Araçá.

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Um time de compositores renomados ajudou a construir o repertório desse álbum, entre eles João Silva, Maciel Melo, Jorge de Altinho e Nando Cordel.

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Produzido pelo Novinho da Paraíba e por Sérgio Kyrillos, arranjos do Maestro Duda, gravado em 24 canais, destaque para “Sanfoninha gemedeira” de João Silva e Novinho da Paraíba.

Novinho da Paraíba – Novinho da Paraíba
1992 – Nova produções

01 É como a onda do mar (João Caetano – Novinho da Paraíba)
02 Sanfoninha gemedeira (João Silva – Novinho da Paraíba)
03 Quando você quiser amor (Luiz Wanderley)
04 Desilusão (Jorge de Altinho)
05 Isso vale um abraço (Maciel Melo)
06 Forró do tico tico (Pinto do Acordeon)
07 Ai meu dengo (Nando Cordel)
08 Dois amores (Jorge de Altinho)
09 Chovendo ou fazendo sol (Novinho da Paraíba – João Silva)
10 Camaragibe (Novinho da Paraíba – André Guerra – J. Silva)

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Trupe Jorge Paulo

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*Acervo Jorge Paulo.

Luiz Wanderley – O forró do Wanderley

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Colaboração do Jorge Paulo, o ‘Bandeirante do Norte’. Um raríssimo LP do Luiz Wanderley.

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As músicas desse disco foram lançadas em 78 RPM também. Foi nesse ano de 1961 que Luiz Wanderley se transferiu da Chantecler para a RCA, tendo registros seus em ambas as gravadoras no mesmo ano.

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Direção artística de Diogo Muleiro (Palmeira), regional e coro sob a regência do Maestro Guerra Peixe, destaque para o baião “Mané baiano” de J. Cavalcanti e Luiz Wanderley.

Luiz Wanderley – O forró do Wanderley
1961 – Chantecler

01. Coco do gogó da ema (Luiz Wanderley / Miguel Lima) Côco
02. Pápa goiaba (Luiz Wanderley / Elias Soares) Baião
03. Forró de Guarabira (Luiz Wanderley / Elias Soares) Forró
04. Trabalha paulista (Luiz Wanderley / Elias Soares) Baião
05. Pirão das crianças (Luiz Wanderley / Elias Soares)
06. Recordação de Caruarú (Luiz Wanderley / Ari Monteiro) Baião
07. Turista baiano (Luiz Wanderley / Elias Soares) Baião
08. Amoroso (Roberto Martins / Miguel Lima) Baião
09. O Homem do bilhetinho (Luiz Wanderley / Wilson Batista / Jorge Castro) Baião
10. Terra dos marechais (Luiz Wanderley / José Batista) Baião-Calipso
11. Mané baiano (J. Cavalcanti / Luiz Wanderley) Baião
12. Pernambucano você é meu (Luiz Wanderley / Elias Soares) Baião

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O sertão e o poeta

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Recebemos esse texto do Prof. Jonas Duarte.
As fotos são de Alexandro Gurgel.

“No aniversário de morte de Gonzaga, quando Recife, Crato, Juazeiro, João Pessoa, Petrolina, São Paulo, Exu, Araripe e várias cidades brasileiras prestam homenagem à Gonzaga escrevi isso que segue abaixo. Sentindo a chuva fina que cai sem molhar na Borborema e ouvindo a sanfona de seu Luiz.
Abraço todas e todos.
Jonas Duarte.
Vulgo Zé das Emas ( e das cabras).”

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O SERTÃO E O POETA

Campina Grande, 02 de agosto de 2009.

Um dos filmes que me marcaram foi o carteiro e o poeta, de Michael Radford, 1994. Registra a influência política e poética de Neruda, exilado numa ilha do Mediterrâneo, sobre um carteiro com quem tinha contato quase diário. As relações humanas se sobrepõem e percebe-se o crescimento político e humano do carteiro e do poeta no entrelaçamento de vidas naquele isolamento forçado. Na película Neruda sentencia: poesia é metáfora.

O historiador Durval Muniz Albuquerque Júnior, meu conterrâneo, publicou sua tese de doutorado sob o titulo A invenção do Nordeste e outras Artes[1]. Obra impactante. Durval procura mostrar com um texto agradável e inteligente, sob a inspiração de Foucault e Deluse, que o Nordeste foi uma criação cultural. A literatura, a música e as artes em geral construíram, a partir dos anos 20, uma imagem do Nordeste. O Nordeste é uma produção imagética-discursiva. Fruto de dizibilidades e visibilidades estereotipadas da Região. Isso em favor dos interesses conservadores.

O belo texto de Durval, na minha modesta interpretação, comete um equívoco. Como diria a sátira de Tom Zé, tem um defeito de fabricação. Substitui o processo real, objetivo, pelo discurso. Aliás, fenômeno comum nos historiadores pós-modernos. Eu interpreto que há a produção de uma imagem. Há a construção de um discurso, considerando o Nordeste o espaço do atraso e do “problema nacional”. Mas esse discurso é também fruto de uma realidade objetiva, determinada pela lógica do capitalismo tardio e dependente, desenvolvido no Brasil.

Atribuir-se exclusivamente ao mundo subjetivo a criação de um espaço “subdesenvolvido” estar-se isentando o sistema capitalista e sua lógica de produzir desigualdades e concentração.

Na ótica hegeliana, idealista, o mundo subjetivo criaria a realidade concreta, material. Na minha, a realidade objetiva existe anterior ao discurso. Em outras palavras, o Nordeste “atrasado” em relação ao Centro-sul industrializado, existe de fato. Assim como o capitalismo em nível global organiza-se em Centro e Periferia. Um alimentando o outro e vice e versa. Concordo que há um discurso atribuindo o “atraso” do Nordeste a causas naturais, fruto das condições climáticas, da seca, etc. E nesse aspecto, precisa-se salientar como o discurso da classe dominante, do conservadorismo é utilizado, para dourar a pílula da superexploração a qual as massas camponesas e trabalhadoras em geral da região são submetidas por suas oligarquias.

Da forma que Durval expõe parece que a literatura regionalista dos anos 30 cumpriu o papel de desenhar uma imagem do Nordeste. A música de Luiz Gonzaga da segunda metade dos anos 40 e nos anos 50 também teria tido o papel de reforçar a imagem da seca, da pobreza, além do reforço ao saudosismo. Ao espaço imaginário, que de fato nunca houve.

Não! Não é bem assim. Posso falar especialmente da obra gonzagueana. Luiz Gonzaga produziu, sem margem a dúvidas, o maior acervo cultural do chamado Nordeste. Diria que, se há alguma identidade nordestina, o “Lua” é um dos principais responsáveis por sua criação. Mas é preciso dizer que Gonzaga não criou, não cantou o estereotipo a que se refere o historiador. De fato, o que ocorreu e ocorre é o uso da produção artístico-cultural pelos setores dominantes. Nesse aspecto é necessário dizer que a luta de classes também existe na difusão e reprodução das artes e da cultura. Não existe cultura ou produção artística acima das classes. A música de Gonzaga, assim como seu carisma e prestigio foram utilizados pelas classes dominantes para construir a imagem do Nordeste que interessava a eles, aos oligarcas, latifundiários e coronéis. Mas a obra de Gonzaga é muito mais ampla e rica do que a que os poderosos divulgaram. E pode ser ouvida em toda sua totalidade.

Na realidade, o Sertão existe, o sertanejo também e produziu um Nordeste, resultado das relações de produção em que está inserido; em um contexto maior do capitalismo brasileiro. Como diz Hobsbawm é preciso, para entender o microcosmo fazer suas devidas conexões com o macrocosmo. Também a partir de Hobsbawm é possível detectar e compreender os processos históricos em que se forjam, se formam, se criam as tradições.

O sertão nordestino é talvez, um dos espaços mais ricos para ver o entrelaçamento entre o mundo objetivo, real, com suas relações sociais contraditórias, diversas, ricas e sua expressão cultural. Se quisermos, sua expressão musical, que poderíamos, sintetizando, resumir na obra gonzagueana.

Os poetas do sertão nordestino afloram a toda hora. Cantando seus dramas, suas riquezas, suas belezas e tristezas. Como diria Neruda, com suas metáforas.

João Cabral de Melo Neto dizia que a música é medíocre. Não concebia a poesia musicada. Ele era tão radical a esse respeito que sequer ouvia música. Cedeu poucas vezes. Uma delas foi quando se deslocou na Espanha, onde vivia, para assistir seu “Morte e Vida Severina”, musicado por Chico Buarque. E confessou que gostou. Já Ariano Suassuna considera que poesia e música andam juntas, que a poesia já carrega em si, a musicalidade. Concordo com Ariano. E diria mais. A fala nordestina já é música. Já falamos cantando.

Interpreto, embora não entenda nada de música, como poema, o som de uma bela melodia. A música, por si só, fala. Na realidade, sequer precisa da letra para se compreender a narrativa (aliás, música é justamente isso). Colocar letra em música é algo que aparece muitos séculos depois da música. Se compararmos, música e literatura são semelhantes na arte de fazer-nos “viajar”. A melodia cumpre o papel de aflorar sensibilidades, sentimentos, de “construir” paisagens. Dessa forma, determinadas letras só combinam com determinadas melodias, músicas, ritmos.

Entendendo, portanto, que a música tocada ou cantada por Gonzaga é, sobretudo, a representação social do Nordeste, de sua cultura; é a expressão de um povo, de seus costumes, de suas alegrias e tristezas, do seu modo de viver. Gonzaga é a expressão musicada do sertão.

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Dentre os diversos poetas do Sertão, um dos que mais identidade tem com aquele universo é Zedantas. Médico pernambucano, atuando profissionalmente no Rio de Janeiro, Zedantas foi à alma sertaneja, completando poeta e musicalmente a obra de Gonzaga. A música de Zedantas é profunda e fácil, como o povo habitante do sertão. Humberto Teixeira também.

E a música de Gonzaga é o “reboliço” sertanejo. É a expressão poética daquelas terras e daquelas gentes. Ao mesmo tempo Luiz Gonzaga sintetiza diversos estilos, apresenta a estética euclidiana do “Cambaio”…… Define paradigmas musicais.

A importância musical de Luiz Gonzaga para a música brasileira assemelha-se a de Jorge Amado à literatura; Dias Gomes ao teatro/novela. O coloco ao lado de Noel, Pixinguinha e outros troncos dessa árvore enorme, de galhas frondosas e infinitas da música brasileira; como, aliás, diz José Ramos Tinhorão.

Hoje, 02 de agosto de 2009, faz 20 anos da morte física de Gonzaga. Lembro bem daquele dia. A imagem que retenho na memória é forte e emblemática do significado de seu Luiz pros sertanejos nordestinos, de todos os recantos.

Havia pouco tempo, a fazenda Paus Branco, vizinha da de papai, tinha sido desapropriada para fins de reforma agrária, e ali, no Cariri Paraibano, entre a caatinga quase virgem, à época, o governo “jogou” cerca de 80 famílias, alocadas em lotes, sem quaisquer infra-estrutura e/ou política pública que os incluísse de forma cidadã no mundo em que vivemos.

Morar ali, a frente das 80 famílias, veio um velho poeta repentista, desses cheios de sabedorias e de histórias belíssimas, além da rima fácil, na ponta da língua. Já idoso, andava sempre acompanhado de um companheiro mais jovem. Participara, nos anos 60, da luta das Ligas Camponesas em Pernambuco. Convivera com Gregório Bezerra, Arraes, Chico Julião e outros grandes daquelas lutas históricas, prenhas de dignidade e glória do campesinato brasileiro. Naquela quarta-feira fria de agosto de 89, no fim da manhã, seu Agostinho bebericava com seu parceiro de caminhadas Zé Satiro, na bodega de papai. O rádio deu a notícia da morte de Gonzaga. Seu Agostinho empinou-se, encheu os olhos de lágrimas, bebeu um trago mais forte e se perguntou em voz alta. Como?! Ligamos a TV e a notícia era dada já mostrando os preparativos do velório e toda a programação de despedida do Lua do Nordeste, que seria realizada de Recife a Exu. As emissoras de rádio passaram a tocar repetitivamente as músicas do Gonzagão. Embora a música se embrenhasse mundo afora, a natureza parecia triste e muda naquele dia.

Almoçamos e quando saía de casa para me dirigir à Campina Grande, onde coordenava uma campanha política já acirrada, mesmo em agosto, pra Presidente, vi seu Agostinho sentado no chão, escorado no tronco da baraúna, que conservamos em frente de nossa casa velha. Chorava e cantava baixinho…. Olhando-me, de baixo, como que abatido por um forte golpe, sua voz apenas gotejava, trêmula e rouca. Resmungou: estou sem forças, sem pernas. Não lembro meus versos, perdi minha poesia. Cadê minha viola?! Com sons de choro e embriaguez, o homem falante calava-se e sofria a dor da perda. Escorava-se na baraúna, símbolo maior daquelas terras, como que pedindo proteção para amenizar as dores da poesia e do poeta….

Vinte anos se passaram. Gonzaga está presente em praticamente toda música de qualidade produzida não só no Nordeste, mas praticamente em todo Brasil. O velho Lua foi “usado” pelos “donos do poder” de todas as formas. Mas sua obra musical é hoje cantada e difundida nos encontros dos diversos movimentos sociais populares Brasil adentro. É inspiração para poetas, compositores de todas as matrizes e estilos musicais brasileiro.

Eu escuto Gonzaga quase diariamente. Encanto-me com as músicas que não fizeram tanto sucesso e são quase desconhecidas do grande público. Algumas delas, sou taxativo, considero entre as melhores. Nesse aniversário de vinte anos sem Gonzaga fisicamente entre nós resolvi escutar uma das minhas preferidas, pouco conhecida, e brindo a vocês que me lêem nessa manhã fria no agosto da Borborema, a letra de 3X4 (Marilú). De Humberto Teixeira e Maria Terezinha; no LP “Aquilo bom”; de 1972; pela RCA. Linda canção, bela poesia no melhor estilo “cambaio/matuto” nordestino. O melhor é o comentário, que não está na letra, quando Luiz, no meio da música diz: “vendo teu instantâneo fico assim, quanto mais te vendo propriamente dita….” É o sertão nordestino puro, com sua gente tal como ela é…. Maravilhosa. Aí a letra.

3X4 (Marilú)

(Humberto Teixeira e Maria Terezinha)

Marilu tu bem me dissestes
Que eu não güento ficar aqui não
Tô morrendo aos tiquin, Marilu
Com saudade lá do meu rincão
Só de olhar teu instantâneo 3×4
Sinto arrocho no meu coração
Se a coisa apertar mais um pouco
Sou capaz de vortar de avião…
Pra ver o meu sertão….
Ver de novo as espigas de milho
Florindo o pendão
Ver a terra molhada de chuva
Cheirar teu cangote
Dançando o baião

E o “resfolêgo” da sanfona??!! O violão, o agogô, chocalho e todo acompanhamento perfeito, dando a harmonia fabulosa que Gonzaga primava tanto em suas canções. Experimente “ver a terra molhada de chuva, cheirar teu cangote dançando baião…” É bom demais….É imortal como diz o hino de Pernambuco….

Viva Gonzagão.

Viva o sertão.

[1] Durval Muniz de Albuquerque Júnior. A Invenção do Nordeste e outras artes. Recife, Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 1999.

Trio Potiguá – Tudo de bom

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Colaboração da Gorete

O Trio Potiguá será umas das grandes atrações do Festival Rootstock 2009.

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“Família de nordestinos, Rio Grande do Norte, Pedro Velho, Montanha. A musicalidade como tradição da família Preá é a maior herança recebida pelo pai, tios, irmãos e irmãs. Luiz Preá já trazia nas veias os acordes de sua sanfona, e fazendo essa mistura sagrada de Gomes e Preá só poderia ter como resultado esse Trio.

O nome ‘Trio Potiguá’ veio para homenagear a terra natal. Como diz Severo Gomes ‘é alegria pura’, humildade, simplicidade e carisma fazem desse Trio, a cada dia, ampliarem a conquista com segurança do seu espaço, do seu lugar no mundo musical. Seu toque no triângulo é imbatível, forte, sua voz é inigualável.

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A batida da zabumba se conhece de longe que João Preá, distinta, limpa, forte e alegre como é também o seu sorriso. O toque da sanfona é inconfundível, só Zezinho Preá sabe como deslizar suas mãos e tê-la em seu peito, difundindo a alma da musicalidade.” (Fonte)

Trio Potiguá – Tudo de bom
2008

01 Chiquita no forró (Severo Gomes – João Preá – Zezinho Preá – Manoel Vidal)
02 Tudo de bom (Zezinho Preá)
03 Lilith (Paulinho Motta – Téo Lustosa)
04 Meu destino (Paulinho Motta – Edhison Dhio)
05 Quem tá la fora entra (Zezinho Preá – Severo Gomes – João Preá)
06 O tempo passa (Zé Hilton do Acordeon – Cabeção do Forró)
07 Sanfoneiro atrevido (Zezinho Preá)
08 Como um passarinho (Zezinho Preá – Severo Gomes – João Preá)
09 Forró do Potiguá (Zezinho Preá)
10 Clareou (Gavião – Severo Gomes)
11 Sem sair do tom (Zezinho Preá – Severo Gomes – João Preá)
12 Pra ela (Marcelo Barraca)
13 Flávia no choro (Zezinho Preá)

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Pedro Raimundo – Adeus Mariana

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Acima a capa do relançamento pelo selo Phonodisc, do ano de 1977.

Acima as capas do original foi lançado em 1968 pelo selo Musicolor, enviadas posteriormente pelo Zé Lima, de Niteroi – RJ.

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“Pedro Raimundo nasceu em 29/06/1906, em Imaruí – SC.
Compositor. Cantor. Instrumentista. Sanfoneiro. Nasceu em berço pobre, e seu pai, João Felisberto, era pescador e sanfoneiro. Aos 8 anos começou a tocar sanfona. Até os 17, trabalhou como pescador. Trabalhou na Estrada de Ferro Esplanada-Rio Deserto, em Santa Catarina. Em 1929, mudou-se para Porto Alegre, onde trabalhou como condutor de bondes, inspetor de tráfego, guarda-freios, maquinista de usina, balconista e oleiro. Foi também chaveiro da estrada de ferro D. Teresa Cristina, onde foi vítima de um acidente que lhe deixou um defeito na mão, o que, entretanto, não o impediu de tornar-se um dos mais brilhantes sanfoneiros do Brasil.” (Fonte)

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“Sua descontração e exuberância valeram-lhe o slogan de O gaúcho alegre do rádio: alternava, em suas apresentações, músicas alegres com outras sentimentais. Foi o primeiro artista típico gaúcho a alcançar fama nacional. Apresentava-se com bombachas, lenço no pescoço, botas, esporas, chapéu e guaiaca. Percebendo a aceitação do seu traje regional, Luiz Gonzaga sentiu-se estimulado a apresentar-se como sertanejo nordestino.” (Fonte)

Destaque para “Escadaria”, na versão de seu compositor.

Pedro Raimundo – Adeus Mariana
1968 – Musicolor

01. Adeus Mariana (Pedro Raimundo)
02. Saudade de Laguna (Pedro Raimundo)
03. Gaúcho Largado (Pedro Raimundo)
04. Escadaria (Pedro Raimundo)
05. Sanfoninha Velha Amiga (Pedro Raimundo)
06. Prece (Pedro Raimundo)
07. Na Casa do Zebedeu (Pedro Raimundo)
08. Mágoas de Amor (Pedro Raimundo)
09. Se Deus Quiser (Pedro Raimundo)
10. Chico da Ronda (Pedro Raimundo)
11. Meu Coração Te Fala (Pedro Raimundo)
12. Oriental (Pedro Raimundo)

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