Desde os primórdios, o Forró era tocado também com o Pífano (aerofone), Flauta feita normalmente de bambu, popularmente conhecida como Pife, acompanhado por palmas e percussão.
O Pífano europeu chegou ao Brasil através dos militares portugueses e dos jesuítas. Os nativos brasileiros, muito antes da colonização europeia, já tocavam diversos tipos de Flauta em seus rituais e celebrações. Na época, tocava-se uma Flauta de formato e som muito semelhantes ao Pife atual do nordeste. Essa Flauta foi encontrada em um cemitério indígena de cerca de 2000 anos, um Pífano de osso enterrado junto com seu dono.
Os Cambembe (Caa = Mato) + (Memby = Música), da atual região de Alagoas, eram conhecidos como grandes tocadores de taboca (tipo de bambu usado para fazer as Flautas). Com o processo de colonização, as Flautas indígenas passaram a receber uma furação igual à dos seculares Pífanos europeus e foram largamente usadas na catequização dos nativos.
Os europeus chegaram no início do século 16. Durante dois séculos, as Bandas de Pífano se desenvolveram até se consolidarem, no início do século 18, com um formato específico, repertório próprio e integrado às manifestações tradicionais dos povoados.
As Bandas de Pífano, Carapebas, Terno de Pífanos, Bandas Cabaçais, Terno de Zabumba ou apenas ‘A Zabumba’ são conjuntos de no mínimo três músicos, compostos por dois Pífanos e um Zabumba. Um remanescente vivo dos primórdios dessa interação entre os elementos indígenas (flautas e celebrações), europeus (paralelismo de terças, harmonias e melodias, temáticas religiosas, procissões e a ‘Marcha’, ritmo das bandas militares) e, em um segundo momento, influências africanas (percussões e ritmos).
Normalmente, completam a instrumentação das Bandas de Pífano, o Tarol (caixa) e os Pratos, além de percussões diversas. Os instrumentos já existiam e eram usados para outros fins.
Em registros históricos, observa-se a denominação de “A Zabumba” para as Bandas de Pífano e “O Zabumba” em referência ao instrumento em si. As bandas eram chamadas de Zabumba pois é o instrumento que se ouve a grande distância. Os músicos iam tocando no caminho e de longe o povoado ouvia o som do Zabumba sabia que a Banda estava chegando.
Antes da colonização, já ocorriam tradicionalmente procissões religiosas na Europa, manifestações que no Brasil foram inseridas pelos jesuítas e tornaram-se parte do conjunto de expressões culturais ligadas ao Pife, assim como as comemorações e celebrações em geral, nas quais as Bandas de Pífano são sempre protagonistas.
Inicialmente misturaram-se as influências militares, religiosas e indígenas, como hinos, dobrados, valsas e marchas, sempre voltados para os ritos católicos. Num segundo momento, mais de um século depois, as influências africanas se integram ao repertório, agregando os ritmos africanos e diferentes santos cultuados.
Dominguinhos disse que Gonzaga gostava muito das Bandas de Pífano. Sempre que parava em uma feira e via uma bandinha, pedia para que tocassem seus repertórios ancestrais.
A inspiração para a formação das Bandas de Pífano pode ter vindo dos conjuntos portugueses chamados de “Bombos”, compostos por 2 Bombos, 2 Tambores, 2 Triângulos e 1 Pife.
No início as Bandas eram formadas apenas por pifeiros, em seguida passaram a ser acompanhadas por uma caixa, tornando-se uma Banda de Pife e Caixa. Até que passam a ser acompanhadas por um Zabumba, tornando-se então finalmente um Terno de Zabumba.
Conta a história que os irmãos Biano, da Banda de Pífanos de Caruaru, tocavam com os indígenas antes de montarem a banda.
Parte do livro: O que é o Forró? Um pequeno apanhado da história do Forró./ Ivan Dias e Sandrinho Dupan. 2022 ISBN978-65-997133-0-9
Projeto contemplado pela 2a Edição do Fomento ao Forró, da “Secretaria Municipal de Cultura” da cidade de São Paulo.
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Muito populares na Europa nos séculos 15 e 16 as Violas (cordofones), sem dúvida, foram de enorme importância dentro da criação e desenvolvimento do Forró.
No século 16, instrumento de origem árabe, evolução do Alaúde, as Violas vieram junto com os primeiros navios que alcançaram o Brasil. Na época havia a Viola renascentista, com 4 ordens de cordas e a ‘Vihuela’, com 6 ordens de cordas.
No século 17, surge a Guitarra Barroca, com 5 ordens de cordas e daria origem a Viola Caipira Brasileira. Viola de Arame, Viola de 10 ou 12 Cordas, as quais são divididas e distribuídas mais comumente em 5 conjuntos, sendo 2 triplas e 3 duplas.
Foi amplamente usada no processo de catequização dos nativos e espalhou-se por todo o território nacional, passando a acompanhar as manifestações culturais brasileiras, adaptando-se aos ritmos miscigenados e conduzindo as cantorias e festas do Brasil colônia.
Com o tempo a Viola passou a ser produzida artesanalmente no Brasil e se difundiu, ganhando inúmeras afinações diferentes e quantidades de cordas, a depender dos mestres e das influências que recebeu em cada região. Perdeu espaço para o Violão de 6 cordas no século 19.
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A Rabeca é uma evolução do Rebab, instrumento artesanal de origem árabe, muito popular na península Ibérica na época da colonização do Brasil. Assim como o Pífano e a Viola, chegou com as primeiras caravelas e foi introduzido culturalmente no novo mundo pelas das festas religiosas, como as Folias de Reis, e na catequese dos nativos.
É um cordofone, um instrumento de corda friccionada com arco, o precursor do violino, mas com uma afinação diferente. No Brasil, sua tradição vem sendo passada pela oralidade e hierarquia entre mestres e aprendizes.
Dependendo da região e dos seus mestres, a rabeca tem diversos tipos de afinação. No Forró, as cordas foram adequadas para facilitar a execução nos tons que encaixam com mais facilidade nas vozes masculinas.
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Já na primeira metade do século 19, em 1821, é criada a Gaita de Boca (aerofone), também conhecida como Harmônica, um instrumento de sopro que permite acordes ou notas, cujos sons são produzidos por um conjunto de palhetas livres. Tem em sua embocadura um conjunto de furos, para cada um deles e dependendo do sentido para o qual se ventila, a gaita emite notas diferentes.
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E finalmente os Acordeons (aerofones), que carinhosamente, no nordeste do Brasil, são chamados de Sanfonas. Os instrumentos de ‘fole’, que evoluíram a partir da Gaita de Mão, são instrumentos de sopro com botões, nos quais os sons são produzidos por conjuntos de palhetas livres, similares aos da Gaita de Boca.
O nome Acordeon vem da palavra acorde (combinação de notas musicais tocadas simultaneamente), pois foi o primeiro instrumento a produzir acordes ao acionar um só botão. Já o nome Sanfona, vem do grego/latim “Symphonia”, que significa “todos os sons juntos”.
Em meados do século 19, o instrumento precursor a revolucionar o Forró rapidamente ganhou espaço pela sua potência sonora e versatilidade. Com 10 botões na mão direita, ficou conhecido como “Pé de Bode”, pois tinha apenas dois baixos na mão esquerda do tocador, que tocava com dois dedos em cada botão, como se fosse o casco de um bode.
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Com o tempo, os Acordeons ganharam mais botões na mão direita e mais baixos na mão esquerda. Evoluiram para o lendário Fole de 8 Baixos ou ‘Diatonic Accordeon’, com 21 botões na mão direita. Até hoje é um ícone dentro do Forró, por ser um instrumento enigmático, difícil de se tocar. O mesmo botão toca notas diferentes ao abrir e fechar o fole, uma quinta justa. Diatônico significa que toca apenas, ou quase exclusivamente, as notas naturais, de DÓ até SI.
No nordeste brasileiro, a Sanfona de 8 baixos tem hoje uma afinação endêmica, única no mundo. Evolução da afinação usada no Reino Unido, que, em meados do século 19, chegou ao Brasil com os operários das estradas de ferro. Aos poucos, sua afinação foi lapidada, recebeu detalhes da afinação europeia (que é usada no resto do Brasil), substituiu notas repetidas por notas diferentes e tornou o instrumento muito mais versátil. Essa evolução permitiu a formação de mais acordes, a execução de peças mais complexas e o acompanhamento harmônico para diferentes vozes, em diversos tons.
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Os Acordeons continuaram a ser aprimorados, receberam a escala cromática (possuem sustenidos e bemóis além das notas naturais) e cada botão ou tecla emite a mesma nota abrindo e fechando o fole. Juntando a lógica do teclado, com a métrica de um Piano e muito mais notas disponíveis para a mão direita. A sequência de baixos é em quartas (notas e acordes) nos botões da mão esquerda.
Sua evolução ficou eternizada nos modelos de 2, 4, 8, 12, 16, 24, 48, 60, 80, 96, 120, 140 e até 180 Baixos.
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Alguns instrumentos de origens africana e indígena sempre estiveram presentes na música brasileira.
Ambos idiofones, o Ganzá (chocalho), no qual o som é produzido pela percussão indireta do ato de chacoalhar ou agitar, e o Reco-reco, no qual o som é produzido por raspagem.
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O Pandeiro, instrumento de origem árabe, desenvolvido a partir de um instrumento chamado Riq, na alquimia cultural brasileira, se fundiu com o Forró e com o Samba como se fossem feitos um para o outro. Por conta de sua leveza e versatilidade, o Pandeiro foi usado como base do acompanhamento dos instrumentos melódicos e harmônicos por muito tempo. É conhecido e tocado em todo o mundo, porém, apenas no Brasil desenvolveu-se uma técnica para ser tocado na posição horizontal.
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