Trio Nordestino, 60 anos de história – Texto de Ivan Dias
Posted on: 19 de março de 2019 /
O Trio Nordestino é, sem sombra de dúvida, o trio de forró mais longevo e importante da história da música. Podemos afirmar isso tranquilamente se observarmos a vasta discografia produzida pelo Trio durante esses últimos 60 anos e as diferentes formações que se sucederam, década após década, geração após geração, sem perder suas raízes e sua essência.
A história começa no final da década de 1950, a década do baião, na qual Luiz Gonzaga era a referência absoluta do forró, dentro do cenário da música brasileira.
José Pedro Cerqueira, conhecido como Cobrinha, nasceu em Serrinha – BA; Foi com apenas 1 ano de idade para a cidade de Feira de Santana – BA, onde cresceu e foi criado por uma tia, chamada Dona Maria.
Coroné, nome artístico de Evaldo dos Santos Lima, nasceu e cresceu em Salvador, onde conheceu Cobrinha e juntos fizeram parte do conjunto Azeitona e seus Vaqueiros
Na época, o sanfoneiro Azeitona gravou um compacto e começou a aceitar trabalhos individuais, já em carreira solo. Coroné e Cobrinha, insatisfeitos por não serem convidados para todas as apresentações do sanfoneiro, passaram a prospectar um novo sanfoneiro para com quem pudessem formar um trio.
Em 1958, receberam a indicação de Balbino do Rojão, cantor de embolada, para procurar Lindú, apelido de Lindolfo Mendes Barbosa, nascido em Entre Rios – BA, no distrito de Lagoa Redonda.
Lindú, trabalhava em uma oficina mecânica e tocava sanfona para Elias Alves, cantor, locutor de rádio e pai de Missinho (vocalista e compositor dos maiores sucessos da Banda Chiclete com Banana). Nessa época Lindú ainda não cantava, apenas tocava a sanfona, que por sua vez, pertencia ao Elias Alves.
Depois de algumas tentativas frustradas de encontrar Lindú, Coroné e Cobrinha foram pela sétima vez até a sua casa procurá-lo, quando finalmente conheceram aquele que viria a ser conhecido como “a voz mais bonita do Nordeste”, segundo Luiz Gonzaga. O apelido “Gogó de ouro” ele viria a receber posteriormente.
Lindú tocou algumas músicas e rapidamente convenceu Coroné e Cobrinha de que seria com ele que deveriam se juntar para formar o Trio Nordestino, fundado em 05/05/1958.
Passaram a tocar em Salvador e região, eles tocavam regularmente em uma casa de shows, chamada “Rumba Dance”, abrindo a noite para os artistas que vinham de fora, como por exemplo: Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Ângela Maria e Bienvenido Granda, cantor cubano, de quem Coroné era grande fã.
Entretanto, quando fizeram a primeira apresentação em um programa de auditório, na Rádio Excelsior, de Salvador – BA, rapidamente a notícia se espalhou e Elias Alves soube que havia um cantor com a “mesma” voz de Lindú, que se apresentara à frente do recém surgido Trio Nordestino.
Por conta disso Elias pediu de volta a sanfona a Lindú, que lhe pertencia. Dessa forma o Trio foi obrigado a se desdobrar pra poder continuar se apresentando. Até que Coroné, com apoio de um grande empresário da cidade, conseguiu financiar uma nova sanfona e assim puderam dar continuidade a carreira.
Certa vez, quando Gordurinha, que era baiano e morava no Rio de Janeiro – RJ, voltou a Salvador para se apresentar na casa noturna onde o Trio tocava regularmente, a “Rumba Dance”. Naquela noite, ele assistiu uma apresentação do Trio e ficou muito bem impressionado, tanto que os convidou para procurá-lo quando fossem ao Rio de Janeiro.
Com essa nova perspectiva de ir para o sudeste e evoluir na carreira, o Trio então inscreveu-se na Aeronáutica (FAB) para pegar uma “carona” para o Rio de Janeiro. Inesperadamente foram chamados e embarcaram rumo ao Rio, sem sequer ter tempo de avisar o Gordurinha que estavam indo.
Chegaram no Rio de Janeiro e foram direto pra casa do Gordurinha, que, embora surpreso, os acomodou e juntos partiram em busca de uma gravadora. Após algumas tentativas sem sucesso, foram recebidos pela Copacabana, onde gravaram o primeiro disco.
A origem do nome
A primeira formação que usou o nome de Trio Nordestino, em 1957, foi Neném (José Domingos de Morais), Miudinho (João Batista de Lima Filho) e Zito Borborema (Manoel Valdivino de Souza). Dona Helena, esposa de Luiz Gonzaga, batizou o trio.
O grupo que acompanhava Luiz Gonzaga em seus shows era chamado de “Patrulha de choque do Rei do Baião”, era composto por Abdias, Marinês, Zito Borborema e Miudinho. Até que no final de década de 1950, perdeu Marinês e Abdias, que saíram para fazer suas carreiras solo.
Nessa época, todos eles moravam na fazenda do Gonzagão, no Rio de Janeiro, onde morava também Dominguinhos, que ainda era conhecido pelo apelido de “Neném”. Com isso Zito e Miudinho se juntaram a Dominguinhos e assim surgiu a primeira formação do trio, que passou a acompanhar o Rei do Baião em seus shows e excursionar pelo nordeste, mas infelizmente durou pouco tempo e não teve registros fonográficos.
Com a ascensão de Dominguinhos e de Zito Borborema para suas carreiras solo, o trio se desfez. Concomitantemente e de forma independente, na Bahia, surgia um novo Trio, formado por Lindú, Coroné e Cobrinha, que adotaram o nome de Trio Nordestino, de forma inocente, sem imaginar quanta glória os esperava.
Com o tempo, o Trio cresceu e finalmente, já no Rio de Janeiro, conheceu Luiz Gonzaga, que num primeiro momento, ainda desconfiado, manteve uma certa distância, mas após algum tempo, reconhecendo o talento do Trio, permitiu que se aproximassem e lhes ‘autorizou’ a usar o nome.
A disputa pelo nome
Além do primeiro trio a usar o nome, Dominguinhos, Miudinho e Zito Borborema, existiram outros dois Trios Nordestinos, ambos com carreiras artísticas estruturadas, produção fonográfica regular, agenda de shows, etc.
O trio formado por Lindú, Coroné e Cobrinha e o trio formado por João Xavier, Heleno Luiz e Toninho do Acordeon, que viria a ser sogro de Oswaldinho do Acordeon.
Houve uma grande disputa judicial pelo nome artístico. No julgamento, Marinês, Dominguinhos e Luiz Gonzaga foram testemunhas. Naquela sessão, o Rei, para comprovar qual dos trios era o real detentor do nome em disputa, cantou “Procurando tu” no tribunal. Após esse incomum ‘testemunho’, o Juiz deu ganho de causa para Lindú, Coroné e Cobrinha.
Quando o Trio foi notificado que o nome estava em disputa, por volta de 1972, ficou impedido de continuar se apresentando, o que fez com que seus integrantes começassem a pensar em alternativas de nomes para caso eles perdessem a disputa.
Um dos nomes a ser aventado foi “Os 3 do Nordeste”, nome que veio a ser utilizado por Abdias para batizar um outro trio que viria a assinar com a CBS em 1973, cujo nome até então era ‘Trio Luar do Sertão’, formado por Zé Pacheco, Parafuso e Zé Cacau.
Divisão de funções
No decorrer da carreira, cada um dos integrantes tinha sua função extra palco:
Coroné era responsável pelo figurino, relações públicas e correio;
Cobrinha era responsável pela venda de shows;
Lindú era responsável pela produção musical.
Discografia
De 1962 até 2018 são 42 álbum de carreira, sendo 30 LPs e 12 CDs. Sem contar os compactos, relançamentos e as inúmeras coletâneas das quais participaram e/ou tiveram suas músicas compiladas.
1962 a 1966 – Copacabana – 5 LPs
1966 a 1972 – CBS – 9 LPs
1973 a 1990 – Copacabana – 18 LPs
1991 a 1992 – RGE – 2 LPs
1997 até 2018 – 12 CDs
Formatos de mídia:
78 RPM
1962 – 78RPM – Copacabana (Chupando Gelo / Retrato da Bahia)
1962 – 78RPM – SOM (Carta a Maceió / Defesa de Baiano)
LPs
1962 – Trio Nordestino (sucesso: Carta a Maceió)
1963 – Pau de Arara é a vovozinha
1964 – Aqui mora o xaxado
1965 – O troféu é nosso
1966 – Coletânea – Os grandes sucessos do Trio Nordestino. Nesse ano o Trio saiu da Copacabana e foi contratado pela CBS (Atualmente Sony Music).
1967 – Amor pra todo lado – CBS
1968 – É forró que vamos ter
1969 – Estamos na praça – Neste ano, Lindú sofre um acidente automobilístico e fica em resguardo durante quase 1 ano. A pessoa na capa do LP não é o Lindú, e sim seu irmão Zezito, sentado em cima da sanfona Dallapé de Abdias.
1970 – No meio das meninas – O grande Hit do Trio foi “Procurando Tú”, vendeu mais de 1 milhão de cópias (número bastante expressivo para a época). Foi o segundo disco mais vendido do ano, sendo que o primeiro lugar ficou com o disco de Roberto Carlos. As modelos dessa capa são as mesmas da capa do LP Amor pra todo lado.
1971 – Ninguém pode com você
1972 – Renovação – (Último álbum gravado pela CBS)
1973 – Copacabana – Primeiro e único (O título faz referência a disputa judicial pelo uso do nome “Trio Nordestino”)
1973 – Vamos Xamegar (É um relançamento, pelo selo Tropicana, do LP “Amor pra todo lado”, de 1967)
1974 – Trio Nordestino – (Sucesso: Chililique)
1975 – Forró pesado
1976 – O alegríssimo
1977 – Estamos ai pra balançar
1978 – Os Rouxinhos da Bahia (Durante um show de Luiz Gonzaga, no Rio de Janeiro, oportunidade na qual o Trio se apresentaria em seguida, Gonzaga falou: Tá chegando ai: Os Rouxinhos da Bahia!) – (A capa do disco tem a sanfona que Lindú havia ganhado do Gonzagão, com a identificação LG – É DO POVO, presente recebido após uma turnê que fizeram juntos ao norte e nordeste em 1975, Gonzaga achou a sanfona de Lindú muito pesada e lhe presenteou com uma nova)
1979 – O Homem de saia
1980 – Corte o bolo
1981 – Ô bicho bom
1982 – Dia de festejo (Ano em que Lindú faleceu, durante o processo de gravação do LP que seria lançado no ano seguinte)
1983 – Amor pra dar (O disco conta com a curiosidade de que uma faixa havia sido gravada para o LP anterior – dia de Festejo – e não havia entrado no naquele álbum: “Não pise no pé dela”. Mais duas faixas com a voz guia deixada por Lindú, desde o início do processo de gravação: “Você nasceu pra mim” e “Amor pra dar”. As demais 9 faixas receberam a voz de Genário, que viria a substituí-lo a partir de então.
1984 – Com amor e carinho (Sucesso: Neném mulher)
1985 – Forró de cima a baixo
1986 – Forró temperado
1987 – Forró de Categoria
1988 – Na intimidade – Neste ano, por imposição da gravadora, o Trio grava ‘oficialmente’ um disco de duplo sentido
1989 – Festa do povão
1990 – Somos nós (Último disco gravado pela Copacabana)
1991 – Vale a pena ouvir de novo – vol.1 – RGE
1992 – Vale a pena ouvir de novo – vol.2 (Genário sai do Trio, voltando para sua carreira solo)
CDs
1997 – Xodó do Brasil
2000 – Nós tudo junto
2001 – Balanço bom
2003 – Baú do Trio Nordestino vol.1
2004 – Baú do Trio Nordestino vol.2
2006 – Meu eterno xodó
2008 – 50 Anos
2009 – O povo quer forró
2011 – Tá ligado doido
2012 – Na pisada
2013 – Bahia do Trio Nordestino
2017 – Trio Nordestino canta o Nordeste (Disco que ganhou o “Prêmio da Música Brasileira 2018”)
As diferentes formações
Em 1981 Lindú passa mal durante a gravação do programa “Os Trapalhões”, é medicado, volta pra casa e continua a passar mal. Mariazinha pede ajuda a Marinês, que era vizinha deles.
Marinês o leva para o Pronto Socorro e ai vem o diagnóstico de insuficiência renal crônica, fato que o impediria de viajar, a partir de então, por conta das sessões de Hemodiálise três vezes por semana.
Em seguida, neste mesmo ano, enquanto tocavam num forró, na Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, conheceram Genário, que acabara de ser contratado pelo Rei do Baião, para acompanhá-lo em seus shows. Cobrinha pediu pra Luiz Gonzaga lhes ceder o sanfoneiro e ele consentiu.
Genário (José Egenaldo Marcelino da Silva), nascido em Tanque D’Arca, cidade do agreste de Alagoas, migrou para o Rio de Janeiro na adolescência. Na época em que recebeu o convite do Trio ele já despontava em sua carreira solo, tinha 4 LPs gravados e era bastante requisitado para participar de shows e gravações de discos de diversos artistas.
Por conta de não terem conseguido fazer ensaios com Lindú e Genário, e se aproximando o período de São João, Cobrinha e Coroné cogitam a possibilidade de cancelar os shows marcados, mas são estimulados pelos próprios contratantes a colocarem um substituto.
Sendo assim, foi chamado Quininho de Valente, amigo do Trio e compadre de Lindú, para cantar e acompanhar o Trio em sua excursão junina. Durante a viagem de carro para o primeiro show, Quininho e Genário se conheceram e combinaram o repertório em comum acordo com Coroné e Cobrinha.
Quininho (Joaquim Santos de Almeida) tinha sua carreira como cantor e era bem conhecido em Valente – BA e região por cantar todo o repertório do Trio Nordestino. Sempre se declarou um grande admirador do Trio, fato que facilitou a grande amizade entre eles, iniciada em meados da década de 1970, em especial com Lindú, que viria a batizar a filha de Quininho, em 1976, tornando-os compadres.
Fizeram então a primeira turnê junina com o trio de quatro pessoas, foi um sucesso. Já no segundo ano, Genário estava com o repertório na ponta da língua, mas o Trio continuava a buscar Quininho em Valente, para acompanhá-los durante as turnês juninas.
Dessa forma, a parceria que era para ser uma solução temporária, durou cerca de 10 anos, todos os anos o Trio saía de carro, do Rio de Janeiro rumo ao nordeste, passava pela cidade de Valente e seguia viagem junto com Quininho.
Lindú faleceu em 1982, deixando um álbum inacabado, o que forçou o produtor da gravadora Copacabana, Talmo Scaranari, junto a Cobrinha e Coroné a decidirem como fariam para finalizar e lançar o disco. Uma das possibilidades aventadas pelo produtor foi a de que Quininho deveria colocar as vozes no disco, porém, Coroné e Cobrinha, com medo de alterar o formato do Trio, com um sanfoneiro cantor, optaram por colocar a voz de Genário, que se firmaria nos 10 anos seguintes à frente do Trio.
Nesse disco, “Amor pra dar”, lançado em 1983, Genário coloca voz em 9 faixas e nelas é obrigado a forçar a voz para atingir os agudos, pois as bases já estavam todas prontas e tinham sido gravadas no tom adequado para a voz de Lindú, que tinha uma elasticidade impressionante na voz. Já nos discos seguintes, Genário adequou as gravações ao seu tom de voz e logo no seu primeiro disco à frente do Trio, em 1984, emplacou o sucesso “Neném Mulher”, que rapidamente conquistou todo o Brasil.
Genário saiu do Trio em 1992 e retornou para sua carreira solo. Ai então, Coroné e Cobrinha, buscaram substitutos e o trio excursionou de 1992 até 1995 com o sanfoneiro o Biu (Benedito Dias de Lima), natural da cidade de Rio Largo – AL, que tocava anteriormente no trio Gaviões do Nordeste.
Com o falecimento de Cobrinha em 1994, Coroné, aceita a sugestão de sua comadre Mariazinha, convida Luiz Mário para assumir o triângulo e o vocal do Trio. Luiz Mário da Conceição Barbosa, filho de Lindú, nascido em Salvador – BA, e que, com um ano de idade foi para o Rio de Janeiro.
Durante o São João de 1996, excursionaram com o sanfoneiro Bacural (Severino Sérgio), nascido em Alagoa Grande – PB, que participara anteriormente dos trios: Trio Luar do Sertão, Os Filhos do Norte e Os Filhos do Nordeste.
Após a saída de Bacural, no final de 1996, Beto Sousa (Alberto da Silva Sousa), nascido no Rio de Janeiro, filho de Antônio Ceará, compositor e compadre de Lindú, assume a sanfona do Trio.
Beto cresceu dentro do ambiente musical e começou a tocar sanfona ainda criança, tendo recebido influências artísticas dos maiores músicos da época, incluindo o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Anteriormente ao convite que o firmaria no Trio Nordestino, ele tocava em um trio chamado Os Filhos do Ceará, formado por Luiz Mário e os irmãos Beto e Robson Sousa.
Com essa formação: Luiz Mário, Beto Sousa e Coroné, voltam a gravar e em 1997 o seu primeiro álbum em formato CD, intitulado “Xodó do Brasil”, recolocando o Trio na produção fonográfica regular.
Em 2005 o Trio sofre mais uma baixa com o falecimento de Coroné, que em seu último show, após tocar um pouco no início da apresentação, para a surpresa de todos os presentes, pediu uma pausa e convidou para tocar zabumba o seu neto que viria a substitui-lo nos anos seguintes.
Coroneto (Carlos Alberto dos Santos Santana), nascido no Rio de Janeiro, atendeu ao pedido do avô, assumiu a zabumba do Trio e acumulou funções, pois passou também a organizar a agenda e a venda de shows.
Dessa forma, permaneceu no Trio como músico até 2017, quando convidou Jonas Santana, baiano de Entre Rios, músico percussionista que já participara de shows e gravações do Trio nos anos anteriores, para assumir a zabumba nos shows e passou apenas a empresariar o Trio.
Depois da expectativa gerada por algumas indicações a prêmios nos anos anteriores, finalmente o reconhecimento veio no ano em que o Trio completou 60 anos de carreira. Merecidamente, o Trio recebe o “Prêmio da Música Brasileira 2018” com o disco “Trio Nordestino canta o Nordeste”, gravado em 2017.
Claro que isso é apenas um resumo da história até agora, pois pra contar tudo precisaríamos escrever um grande livro. E o melhor de tudo é que a história continua sendo escrita e vivida, já que o Trio continua firme e forte, tocando, produzindo fonograficamente e excursionando por todo o Brasil e exterior.
Pra encerrar, divido uma lembrança feliz de certa vez que fui ao Rio de Janeiro tocar em um forró, no início dos anos 2000, e encontrei o Coroné, que estava chegando pra passar o som. Ele desceu do seu carro, um Opala Diplomata, e anunciou, com grande alegria, que acabava de conseguir se aposentar como músico, mostrando com orgulho sua carteira de trabalho. Na época não entendi por que tanta alegria, mas depois percebi o quanto ele, assim como todos os músicos, devia ter sofrido com o preconceito pela carreira de músico profissional.
Frequentemente me lembro dele, em especial num trecho de uma música que sempre que ouço, me vem a mente os meus tempos de menino quando dançava a noite inteira nos shows ao som do Trio, e reparava sempre no fantástico coral que Coroné fazia, sua voz rouca ainda ecoa forte em meu coração.
“Chap Chap Chap, chinela no chão,
Chap Chap Chap, bote a lenha na fogueira,
Chap Chap Chap, requebrando no salão,
Chap Chap Chap e é forró a noite inteira”
Música: Chap Chap (José Batista Filho / Raimundo Andrelina)
(Texto de Ivan Dias – Dezembro 2018)
Fontes:
Pesquisa baseada na discografia do Trio Nordestino, disponível em www.forroemvinil.com
Entrevistas com Beto Sousa, Luiz Mário, Jonas Santana, Quininho de Valente, Maestro Marcos Farias, Lisete Veras e Gennaro.
Agradecimentos especiais pelo apoio, incentivo e informações extra, para Enrique Matos, Dewis Caldas, DJ Xeleléu, Gavião, Macambira, Missinho, Tiziu do Araripe e Bruno Canazza.