Textos – Para encerrar o papo sobre a fuleiragem music
Nessa postagem, quero passar para todos, os links para dois textos interessantes. (A imagem abaixo, não tem nada a ver com o contexto, é só pra ilustrar, foi extraída do site do artista plástico Jaílson Server.)
O primeiro foi escrito por Zé Teles, na sua coluna semanal no JC online, uma “continuação” da matéria sobre as bandas de forró:
“Antes de mais nada, não estou fazendo campanha contra o chamado forró eletrônico, ou estilizado. Uso a tribuna virtual para expressar minha incredulidade de cidadão com o nível das apresentações da maioria destes grupos. Alguns deles exibem hoje, abertamente, para todo tipo de faixa etária, espetáculos que até outro dia se viam em locais fechados, que não permitiam a presença de menor de idade.
Ao contrário do que me escreveu um leitor, não considero que esta música exista porque o povo gosta. O povo foi ensinado a gostar desta música. Como gostava nos anos 60 e 70 de Chico Buarque (que vendeu 600 mil cópias do seu LP de 1978), ou dos Beatles. O popularesco entrou em moda na era Collor, que, bem- nascido, não gostava obviamente de Leandro & Leonardo, mas dava a entender que sim, pra agradar ao eleitorado, puro populismo. Com a massificação da monocultura sonora no rádio brasileiro, a população, mal informada, passou a gostar de qualquer gênero que entrasse na moda. Foi assim com os sertanejos, depois com a axé music, depois com o pagode, e agora com as bandas.
Quando atribui à axé music a existência da fuleiragem music, não quis dizer que a axé era ruim ou boa. Aliás, no início até que havia originalidade no axé, de onde saiu uma das mais interessantes ritmos híbridos da MPB, o samba-reggae, ou o batuque afro do Olodum. Aquele disco O canto da cidade, de Daniela Mercury é muito bom. O que a axé inspirou em todos os subgêneros popularescos (o brega, o pagode, e até o sertanejo) foi a estética de palco, o gestual do bate palminha, tira o pezinho do chão, mexe a bundinha etc etc. No entanto, por mais que forçasse a barra e continuar criando bobagens pra animar o rebanho do abadá, a axé music manteve-se dentro de certos limites. Já a grosseria nestes chamados forrós é própria deles.
Começou como uma brincadeira, uma brincadeira que acabou sendo o padrão em todas as bandas. Foi mais ou menos isto que aconteceu nos anos 70, com o forró (o de verdade), e o duplo sentido. No começou era “Passei a noite procurando tu”, “Ele tá de olho na butique dela”, “Que diabo você tinha?”, aí entrou Zenilton de sola com Tabaco, o gostoso da novela, Quiabo cru, Lasca de minhoca, e por aí vai. Porém os forrozeiros conheciam limites, e a piada foi perdendo a graça.
E os mais apelativos feito Sandro Becker saíram de linha. Com as bandas não. O tripé rapariga, cachaça, e gaia vem sendo repetido de tal forma, e há tanto tempo, que acabou entrando na linguagem do pessoal que curte tal tipo de música, na qual mulher sempre é gaieira ou pra ser consumida e cuspida em seguida. Cachaça é pra beber até cair, e carro não é apenas meio de transporte, mas lotação pra encher de rapariga. Moderação somente no bom-gosto.
A música? Sob qualquer critério, é muito ruim. Repete-se uma fórmula, com naipe de metais sem a menor criatividade. Os vocais são sempre muito monótonos. Os cantores formularam um tipo de interpretação apropriada para a grosseria do que cantam. As cantoras tentam emular Ivete Sangalo, cuja música também não é lá uma brastemp, mas pelo menos a baiana tem classe, ou pelo menos estilo.
A fuleiragem é música comercial no pior sentido do termo. Tudo bem que seja. Afinal, talento é pra quem tem, não pra quem quer ter. Agora, chamar aquilo de forró é um desrespeito à memória de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Abdias, Marinês, Jacinto Silva, Marinalva, Zito Borborema, Cobrinha, Lindú e Coroné (do Trio Nordestino), e tantos outros. E uma prova de que estas bandas só trazem forró no nome tá na revista Sucesso, de janeiro do ano passado.
Nela se anunciava o surgimento de mais uma banda a Dinamite do Forró, cujo estilo assim foi definido por Marquinhos Maraial, produtor do grupo: “A Dinamite do Forró traz uma mistura de forró, vanerão, axé, calipso e arrocha”. E aí onde se lê “forró” leia-se “lambada estilizada”. Nada contra a mistura de ritmos, ou a lambada, até porque, teve uma época em que Marinês, ou Abdias gravaram discos inteiros de carimbó. Mas não disfarçavam chamando aquilo de forró. Era carimbó mesmo, e do bom.”
E o segundo texto, foi enviado pelo Douglas Magalhães, da rádio Atalaia de Aracajú – SE, ele trata do fórum de debates que homenageou o nosso querido Dominguinhos. Foi a sétima edição do Fórum do forró e teve cerca de 1500 participantes.
‘Nos dias 3 e 4, o evento foi transmitido pelo portal especial criado pela Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA). A novidade permitiu a participação nos debates de internautas do interior do Estado de Sergipe, como São Cristóvão e Itabaiana, e mesmo de outros Estados, como Pernambuco, São Paulo e Ceará.
A programação de hoje também estará disponível na rede. Esta iniciativa contou com o apoio do Governo de Sergipe e da Aperipê TV. As pessoas que perderam a oportunidade de prestigiar o evento, terão a chance de conferi-lo durante a programação especial da Aperipê TV, no dia 29, às 21h30, quando será apresentado um compacto do que foi discutido nos três dias de fórum.
A diretora presidente da Aperipê, Indira Amaral, conta que será uma grande responsabilidade transmitir em apenas uma hora um evento tão rico. “Pela importância do Fórum para a cultura nacional, e principalmente para o Nordeste, é uma obrigação da Aperipê exibir o conteúdo. Por ser uma a representante da TV Brasil, devemos dar visibilidade a temas não veiculados pelas empresas comerciais”, acrescenta.
Para Indira, o Fórum do Forró é indispensável na manutenção da matriz cultural do Nordeste. “O evento reflete a cultura e faz com que a tradição não se acabe. Ele se caracteriza como resistência e renovação”, ressalta, reforçando que é de suma importância que todas as administrações mantenham o compromisso com a execução deste tipo de evento.
Continuidade
O prefeito Edvaldo Nogueira sancionou a Lei 3.559, de 26 de maio de 2008, instituindo permanentemente o evento no calendário junino da cidade. “Quem não conhece as suas raízes e quem não conhece a sua aldeia não pode pensar em dar vôos maiores. Um povo que não nutre, trabalha, discute e nem preserva sua cultura tem um futuro muito tênue como povo, como gente e como nação”, destacou.
Edvaldo reafirma seu compromisso de seguir contribuindo para a valorização e a preservação da cultura de sergipana. “O fórum foi justamente criado para que pudéssemos embasar teoricamente os debates, contribuir para a formação do público, disseminar o forró e estudar os grandes artistas que fazem desse gênero tão rico e universal. Por isso, resolvemos instituir esse evento na agenda cultural de Aracaju e do Estado de Sergipe”, argumentou.’